Estimado leitor, a arte sempre reflete seu tempo sob quaisquer circunstâncias. Isso implica dizer que, ainda quando o artista se imagina totalmente independente das vicissitudes de sua época, ele está na verdade rendendo tributo à História. Nem mesmo o mais independente dos artistas consegue fugir a essa norma.
A arte resulta, podemos afirmar, da interseção de duas realidades: uma interna e uma outra externa. Negar essa evidência, como fazem alguns historiadores da arte, é ignorar o próprio contexto em que floresce a prática artística.
Toda manifestação dessa natureza pressupõe um criador e uma realidade sobre a qual ele irá se debruçar. Ou seja, um artista que se interessa por um objeto deseja com ele interagir, conhecendo-o e, a partir dessa relação cognitiva, comunicar-se com aqueles que apreciarão a obra confeccionada. Assim, não há arte sem expectador, não há arte sem interação.
A arte é, ao mesmo tempo, um fenômeno social e um traço essencialmente humano. A cultura se alimenta disso, da inserção social dos indivíduos. Afinal, a vida, em toda sua plenitude, com todas suas contradições, avanços e recuos, é, por excelência, a matéria-prima da Arte.
Nessa linha de raciocínio, é preciso dizer que o conhecimento estético resulta da interação dialética existente entre o mundo interiorizado, aquele do artista ou criador, e o mundo exteriorizado que se busca traduzir e transformar, consciente ou inconscientemente. Assim, a arte tudo pode recriar, inventar e subverter. Essa, aliás, é a sua mais peculiar especificidade.
No início, as manifestações artísticas estiveram ligadas à ideia do útil, adornando os objetos de uso cotidiano nas sociedades humanas ainda em formação. Com o passar do tempo, ela se desgarrou dessa primeira função, e a noção de belo se impôs. Doravante, a arte passa a ter um valor intrínseco, e a beleza torna-se algo útil. Surge a estética, isto é, a beleza, por si mesma, como objetivo.
Uma das funções mais importantes das diversas manifestações das artes é captar a realidade demasiado efêmera e prolongar a sua existência. Alguém que encomenda o seu retrato se deixa imortalizar. Antes de a fotografia assumir o papel de congelador do instante, a pintura tinha essa função, o artista plástico foi o fotógrafo oficial ao longo de milênios.
Por isso, afirmamos, a obra de arte deve apoderar-se do público, não através de uma identificação passiva, mas através de um apelo à razão que requeira ação e decisão, incentivadora da formulação de um julgamento daquilo que foi apreciado. Assim, assiste às suas próprias atribulações e sofre os impactos das incessantes transformações.
A liberdade da Arte acompanha sempre a liberdade do homem. Talvez a beleza maior da vida resida na busca da harmonia entre o nosso mundo interno e o externo. E é justamente o que a arte faz. E não há nada mais útil e belo do que isso na vida.