Cerca de 550 mil pessoas com depósitos em caderneta de poupança entraram na Justiça para receber a correção monetária que os planos econômicos Cruzado, Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2 deixaram de pagar. E milhões de depositantes não tiveram interesse em recorrer à Justiça visando àquele fim, o que já significa um ganho enorme para os bancos. “A Lei não socorre quem dorme”.
Calcula-se que, se os bancos perderem as ações, terão de fazer um desembolso aproximado de R$ 170 bilhões. Para evitar esse enorme prejuízo, o Ministério da Fazenda e o Banco Central estão a favor dos bancos e o ministro Guido Mantega disse que o governo vai se empenhar ao máximo para ajudá-los nessa questão, uma vez que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são réus em muitas das ações. O ministro, em audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir a crise econômica, alegou: “Os bancos não se apropriaram de nada. Isso cria esqueletos que são pagos até hoje.”
O Banco Central justificou que entrou no processo a favor dos bancos para defender os interesses do governo federal. E um assessor do BC declarou que “o Banco Central vai agir em defesa dos interesses da União e dos bancos públicos”. Todas essas informações foram publicadas pela Folha de S. Paulo, na edição de 16 de abril. Vamos aplaudir o gesto nobre do ministro e da equipe do Banco Central, que defendem os interesses do Brasil e, por tabela, dos sofridos bancos que não podem, mesmo, arcar com tão vultosa sangria em seus cofres.
Porém, como fica o povo, que acreditou no governo e deixou os seus trocados depositados na poupança e não recebeu em troca o que lhe era prometido e devido? O povo perdeu, só no cálculo referente às 550 mil ações, um montante de R$ 170 bilhões. Fica a triste constataçã o povo, que está acostumado a viver de migalhas, pode muito bem passar sem o que seria seu por direit os seus sonhados bilhões, dos quais é melhor se esquecer; mas os bancos, nem pensar em perder alguma coisa, já que o sistema bancário poderia até falir. Seria a derrocada da economia.
Povo é bom mesmo para colocar voto nas urnas e eleger e reeleger quem se esquece de defendê-lo. Entre povo e bancos, salvemos os bancos, como bem diz o ministro. Povo é detalhe...
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro