A partir de um olhar atento, sentimos que a solidariedade e a perseverança são mais fortes do que o egoísmo, o individualismo e a corrupção. A esperança é uma virtude que permeia o coração das pessoas, superando as situações de desespero e desânimo. É uma questão de confiança em Deus, de espiritualidade, que encontra suas raízes mais profundas na prática concreta da fé cristã.
As lutas e desafios que vão surgindo, normalmente, na vida das pessoas e das comunidades ficam muito mais amenos e suportáveis quando assumidos com atitudes determinadas, corajosas e perseverantes. O peso diminui com a participação solidária de quem é capaz de ajudar. Na solução de problemas, onde dois ou mais agem juntos, as forças aumentam e a sobrecarga diminui.
A Bíblia cita a batalha travada entre Israel e os amalecitas. Na colina, Moisés se sacrificava a favor dos israelitas, que venciam enquanto suas mãos ficavam estendidas. Não aguentando, venciam os amalecitas. O gesto solidário de Aarão e Ur fez com que Moisés perseverasse de mãos estendidas, fazendo vencer o povo de Deus. Com isto, os amalecitas foram abatidos (Cf. Ex 17,8-13).
Numa cultura em que as pessoas vivem isoladas, fechadas em seu próprio mundo, as forças de conquista são muito reduzidas. A frase “povo unido jamais será vencido” é uma verdade. O Brasil poderia ser bem melhor se os cidadãos fossem unidos e “brigassem” juntos pela mesma causa. Existe uma carência de convergência na ação reivindicativa, falta solidariedade e tudo fica como está.
As motivações que vêm da fé e da Palavra de Deus abrem os corações herméticos, lançam as pessoas para uma verdadeira prática de solidariedade e conseguem transmitir segurança e firmeza na realização de boas obras. Nessa dimensão estão os pobres e os ricos, todos eles marcados pelo clima do individualismo e pela incapacidade de unir forças para construir um mundo melhor.
A Bíblia apresenta a cena de um juiz injusto, que atende aos pedidos de uma viúva pobre, corajosa e perseverante nas suas súplicas. Na verdade, “o juiz injusto é vencido pela perseverança da viúva pobre” (Cf. Lc 18,1-8). Da parte do juiz faltou o dom da solidariedade, que só foi realizado porque houve resistência da viúva. A esperança é causadora de resistência e perseverança.
(*) Arcebispo de Uberaba