Começamos mais um tempo de Quaresma, de retomada dos princípios do amor, da solidariedade e do encontro com Jesus Cristo no caminho da cruz. É uma via de sacrifício e violência, culminando com a morte. É a mesma proposta de reflexão da Campanha da Fraternidade, com o tema: “Fraternidade e superação da violência”, fundamentado na base bíblica: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
A cultura da violência provoca instabilidade, desconfiança e medo. Mas precisamos construir a cultura da paz, da confiança, “arrumando” nossa vida interior, porque a paz verdadeira tem que começar no coração de cada pessoa. É o sentido da mudança de vida, ou conversão, própria da Quaresma, fazendo um encontro pessoal com Jesus Cristo, que é fonte e sustentação da esperança.
O mal não pode ser o “carro-chefe” dominando a sociedade. Mas é necessário superar a prática da corrupção e da impunidade dos últimos tempos, que têm privilegiado magnatas extremamente irresponsáveis e desumanos. A sociedade brasileira está, cada vez mais, corroída e prestes a ser submergida, como num dilúvio, se não forem tomadas providências sérias enquanto é tempo.
O país não vai conseguir superar o drama da violência sem mudanças radicais na sua estrutura administrativa. É fundamental trabalhar a transparência dos órgãos de ação. Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são os “carros-chefes” e todos devem estar munidos de responsabilidade no lidar com a coisa pública. São os Poderes que constituem a governança da nação.
Pela mídia, a vida tem sido muito marcada por notícias ruins e negativas. É hora de construir a boa-nova do Reino de Deus, Reino de vida. Para isso, necessitamos da vitória do bem sobre as forças do mal, porque ele provoca a morte sem piedade. Significa transformar a cultura da violência destruidora numa prática de fé, de amor e de esperança. Assim a vida passa a ter sentido e ser saudável.
Para muitas pessoas, que agem com irresponsabilidade, a festa de carnaval se transforma em expressão de violência, de pesadelo, de consumo de drogas, de prisões e de assassinatos. O que deveria ser motivo de muita alegria torna-se sofrimento. Esse não é o espírito e nem o projeto da Quaresma, tempo de conversão e de reconhecimento dos valores que fazem parte da vida humana.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba