A semana que passou pode entrar para a história da F-1, pois não é todo dia que um carro novo consegue ser o melhor logo de cara, ou, ainda, ser apenas uma lembrança vaga no futuro, ou seja, quando outro carro novo fizer os temporais que a mais nova equipe do circo vem fazendo. O carro da Brawn GP, em menos de uma semana de vida, virou a sensação dos testes coletivos em Barcelona. Os testes começaram no dia 9 deste mês e terminaram na quinta-feira, 12. O melhor tempo no final foi do carro estreante, com Barrichello no comando. Ao contrário do que vinha ocorrendo nos testes anteriores deste ano, onde havia um desempenho muito próximo dos melhores carros, o Brawn GP 001 estabeleceu outro parâmetro de performance, pois consegue ser mais de um segundo mais rápido que seu próximo perseguidor. Foi assim em Barcelona e volta a ser em Jerez de La Fronteira, onde desde domingo estão Brawn, Williams, Renault e McLaren. Na segunda-feira, em Jerez, na parte da manhã, Barrichello voltou a ser o melhor. Mas, na parte da tarde, ao final dos treinamentos, o espanhol colocou combustível para apenas duas voltas e, assim, conseguiu liderar uma sessão de testes pela primeira vez neste ano. Alonso foi 0,05 seg. melhor que o brasileiro, mas conseguiu pôr 0,549 seg. em cima do Button, que andou à tarde. Na terça-feira, foi a vez de Button pulverizar os tempos. Andou abaixo de 1m18seg005 em cima do tempo do Alonso, na segunda. Foi algo que ninguém conseguiu. Se Barrichello foi o rei de Barcelona, Button foi o de Jerez. Impossível de se imaginar a competitividade desse modelo ao lembrarmos que foi o último carro a ir para a pista com o da Toro Rosso. No dia 6, quando Button fez o shakedown do carro, a equipe nem tinha os pneus slick de 2009 e andou com os frisados de 2008. Quem viu achou que o carro seria um sério concorrente à última fila do grid. Mas já no primeiro dia de testes, Button conseguiu ser o quarto na folha de tempos, ao final do dia. De lá para cá, tem assustado e enraivecido muita gente. Flávio (Malliatore) Briatore, da Renault, não se conteve e rasgou o verbo. “Tem três carros fora do regulamento, a FIA tem que tomar uma posição”. Essa da FIA ter que tomar uma posição é em relação à Williams e à Toyota, por elas estarem usando defletores traseiros, fora da especificação, o que foi proibido no regulamento deste ano. E a terceira equipe? Só pode ser a sensação dos treinos, a Brawn GP 001. Até que demorou alguém reclamar de algo desse carro. Como citei na coluna passada, o currículo de Ross Brawn é impecável e acredito que ele não usaria um carro fora do regulamento para atrair patrocinadores. Em conversa com um repórter, ele citou: “Já sabíamos, através de simulações, os tempos que esse carro seria capaz de fazer em Jerez, Bahrein e Barcelona. Quando vimos os tempos dos concorrentes, ficamos surpresos por eles não estarem andando mais rápido”. Barrichello também falou que esse carro está sendo desenvolvido desde maio, quando ainda havia muito dinheiro da Honda nos investimentos. Mesmo quando a Honda anunciou que abandonaria a categoria, o pessoal na Inglaterra continuou desenvolvendo o carro. E desde dezembro esses investidores já tinham uma unidade do motor Mercedes para estudar a melhor maneira de colocá-lo no carro. De qualquer maneira, a nova escuderia tem tirado o sono de algumas equipes. Num passado recente, vimos um carro dominar os testes pré-temporada e, quando terminou o campeonato, o máximo que ele conseguiu foi um quinto e um sexto lugares. O carro era a Prost-Acer de 2001, que também precisava de patrocinadores. Mais no passado ainda, em 1977, a Wolf, com J. Scheckter, ganhou sua primeira corrida — fato raro — e, ainda, fez o vice-campeão mundial. Em 1988, porém, outro carro dominou os testes e ganhou o campeonato, de forma avassaladora. Trata-se da invencível McLaren Honda MP4/4, que só não ganhou todas as etapas devido a um acidente em Monza, de Senna, com um retardatário, Jean Louis Schlesser, que se tornaria campeão nos carros de turismo. Ao recorrermos ao passado, vemos que, na F-1, os exemplos contêm histórias nas duas versões, ou seja, pode ser blefe ou pode ser que estamos diante de um fenômeno. A verdade é que só saberemos quem é quem na Austrália, nos dias 28 e 29 de março. ’Tá chegando! Felicidades a todos!