ARTICULISTAS

Surpresa na Romênia

Ana Salvador
Publicado em 25/07/2022 às 19:01Atualizado em 18/12/2022 às 20:59
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Era um trabalho como tantos, uma auditoria em Bucareste. Implica falar com muita gente, escutar muito, andar por áreas de trabalho, analisar documentos. No caso, com dificuldade acrescida pela barreira do idioma. Mas, vamos lá.

Os romenos estão acostumados, assim, sempre há um tradutor por perto. Seja em reuniões ou entrevistas, com educação e tentando manter a fluidez da conversa, o senhor traduzia de cá para lá, de lá pra cá. De notar que o tradutor não fala português, assim, era o inglês que permitia a comunicação.

Trabalho iniciado, primeiras interações decorridas, vem a surpresa. Afinal, é possível compreender algo!

Romeno é uma língua latina, mas tão do outro lado que não se associa às mais conhecidas, e mais próximas, espanhol, italiano, francês. Ainda assim, latina é, e, com algum tempo e boa vontade, percebe-se.

Afinal, numa entrevista, chegou o ponto em que não era necessário traduzir nada. O ouvido se acostumou aos termos e inflexões caraterísticas e, milagre(!), o cérebro já conseguia decodificar quase tudo. Quem diria!

Há uma sensação de alívio profundo ao perceber que a comunicação é possível. Não mais a vulnerabilidade total, dependendo de alguém, sabendo que algo importante pode estar sendo perdido no transporte de um lado a outro, de uma língua à próxima.

Sensação muito maior, e melhor, é voltar à terra natal e entender, não apenas o que se diz, mas as muitas camadas por trás. Partilhar histórias, conhecimentos e conhecidos preservados calmamente e prontamente recolhidos é quase uma viagem dentro a viagem.

Atividades tão simples como ir ao supermercado e ouvir o sotaque cantado da terra, os erres e esses característicos, a forma gentil, informal e amigável de dizer qualquer coisa. E encontrar produtos comuns por aqui, tão raros, ou impossíveis por lá. Pizza de palmito, coxinha de frango com Catupiry do meu professor de geologia, lacticínios com a coroa dourada, impossível parar de comer, é tudo bom demais. Estou em casa!

E, para completar, chegar bem na comemoração dos cinquenta anos deste Jornal, cuja história, além de ser parte da cidade, também é da família. Fica a homenagem deste cantinho, desejando mais cinquenta e muitos.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica AnaMariaLSVilanova@gmail.com

 

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