Não resta a menor dúvida, o que caracteriza os dias de hoje é o medo. Vivemos a civilização do medo. Medo de doenças. Medo de assaltos. Medo dos desencontros. Medo das crises que apontam no horizonte. Estamos perdendo a paz. Nosso interior ressente os sinais já muito claros. Vivemos assustados, irritados, contrariados.
É muito conhecida a afirmação pessimista de Sartre: “O inferno são os outros”. Não vamos discutir se é verdade ou não. O que é verdade é que estamos perdendo a paz. Por isso sofremos.
De um modo geral, os orientais quando se encontram, inclinam-se um diante do outro, tocam com os dedos a cabeça, os lábios, o peito e dizem “shalom” ou “salam”. Isto significa que a paz esteja contigo, em teus pensamentos, em tuas palavras e em teu coração. São sábios. Há muitos mil anos sabem que o mais importante é a paz. Que vale a saúde se não há paz? Que valem as riquezas se não há paz? Que vale o poder se não há paz?
Jesus, quando se encontrava com seus discípulos, sempre dizia por duas vezes: “A paz esteja com vocês”. Para os budistas, a perfeição se consegue somente quando se encontra a paz e, consequentemente, a perfeição.
Quando falavam em paz, não significavam ausência de guerra. A verdadeira paz é o equilíbrio interior. É um estado permanente de harmonia dentro de nós. É uma visão não fragmentada do que somos, temos e podemos. É de natureza espiritual. Não está na linha do ter, muito menos do poder. A paz não faz de nós proprietários, apenas administradores das coisas de Deus. É uma libertação do egoísmo, da vaidade, do orgulho, do ter coisas.
Nós nos queixamos sempre de que nos falta alguma coisa. Não sabemos do que se trata. Nosso coração é irrequieto. A dúvida “será que somos aceitos ou será que somos amados” nos machuca. Tememos o isolamento. O medo da morte nos assusta. Então sofremos. Vamos perdendo o significado da vida. Daí a depressão. Corremos atrás dos psicólogos, dos analistas. Procuramos descobrir a gênese de nossas inquietudes, de nossos sofrimentos. De nossas angústias. De nossas insônias. Daquela dor continuada que nos fere por dentro.
É bom de vez em quando, entrar bem dentro de nós, com rigor e sinceridade e perguntar: Qual a razão de meus medos?
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro