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Tempo de tempestade

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 07/07/2021 às 20:17Atualizado em 19/12/2022 às 03:08
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O que causa realmente grande tempestade na vida de uma sociedade é o drama de determinado sofrimento de seu povo. É o que estamos assistindo, vendo a realidade de quase quinhentas mil mortes causadas pela agressividade do coronavírus no Brasil. Isso vem ocasionando provação através do luto e do sofrimento para milhares de famílias, que só será superado com o tempo e com a fé em Deus.

Nesse clima de sofrimento de tantas pessoas, é importante olhar para a figura sofrida de Jó, que lamentava as provações pelas quais passava. Mas Jó, mesmo nestas condições, pôde perceber o valor de sua dignidade diante de Deus, porque conseguiu enfrentar as adversidades e tempestades da vida. Para ele, o sofrimento não era castigo, mas oportunidade para encontro com o Senhor.

A Bíblia cita uma tempestade acalmada por Jesus, quando junto com os discípulos, no mar da Galileia (Mc 4,37). A intenção era mostrar que a vida está cheia de adversidades, de muitos muros, que dificultam, mas não conseguem impedir a continuidade e a serenidade da história. Podemos dizer que Deus não é indiferente em relação ao que acontece com o povo, seja com migrantes ou refugiados.

O sofrimento existe para todos os seres humanos, também para as pessoas justas. Ele não é um castigo e nem uma desgraça na vida, mas sim fruto dos condicionamentos dessa condição humana. Quem tem uma vida muito fácil dificilmente vai conseguir atingir um relevante nível de maturidade e de responsabilidade. Todo sofrimento consegue amadurecer e despertar compromisso na vida pessoal.

O clima de divisão e de tempestade, que vem acontecendo no contexto da diversidade cultural, principalmente neste momento de pandemia no Brasil, somado às polarizações e ataques frequentes a pessoas e instituições, não é saudável para o país. Quem perde é o povo, e mais ainda aqueles sem força e sem voz para agir. O caminho é quebrar as barreiras que dividem as pessoas.

A tranquilidade se opõe ao medo. Viver com medo é tornar-se descontrolado e agressivo. Creio que o caminho seguro é a fé, a confiança em Deus, mas confiança que passa por políticas públicas na via da responsabilidade e por políticos preocupados com o sofrimento dos mais pobres e sofredores. É o caso dos migrantes e refugiados citados acima, símbolos dos grandes sofredores de hoje.

Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba

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