Corta-nos o coração, na temporada de chuvas
Corta-nos o coração, na temporada de chuvas, ver os semelhantes em situação aflitiva, perdendo bens materiais e presenciando a morte de parentes e amigos nos deslizamentos de morros que atingem casas e destroem tudo pelo caminho.
A situação se repete há anos, nas mesmas cidades, sem que se tomem providências para evitar o pior. Este ano, no Rio de Janeiro, a chuva torrencial, presente de grego, que chega na época de Natal e Ano Novo, tempo que deveria ser de esperança e confraternização, atingiu cerca de quatro mil pessoas, que perderam tudo e estão em abrigos públicos ou casa de parentes.
O socorro momentâneo minimiza a dor, porém ainda há casas dependuradas em encostas e outros lugares de risco, na rota de montanhas de lama, pedra, e árvores, que, com as chuvas, deslizam rumo aos vales. Só o governo não se move.
É responsabilidade do poder público evitar ou ao menos minimizar desastres causados pelas chuvas. A fiscalização permanente da defesa civil, por exemplo, evitaria a edificação de casas em zonas de risco. E é preciso combater outra calamidade que sempre se repete: a verba destinada à reconstrução de casas, ruas, redes de água e esgoto é descaradamente desviada por bandidos impunes e nunca devolvida.
Não se fizeram obras para escoamento das águas, mas, para estádios da Copa, sobra dinheiro. Ronaldo, do Comitê da Copa, perdeu a oportunidade de ficar calado ao dizer que “Copa não se faz com hospitais, mas com estádios”. Vítimas do confronto entre torcidas do Vasco e Atlético Paranaense em estádio foram tratadas em hospitais; pior será acontecer uma briga numa final de Copa! Haja hospitais preparados! E cidadão que adoece (e paga impostos), procura hospital; não, estádios.
Chuvas darão trégua e não atrapalharão jogos da Copa. E, até lá, torcedor brigão já estará domado pela lei. Entretanto, para famílias flageladas pela chuva, nada disso interessa. Assim como, para o governo, essas famílias parecem não significar nada. A dor do cidadão não arde nos olhos do governo. Resta saber até quando o cidadão será ignorado