ARTICULISTAS

Tempos Modernos

Virlanea – ia receber seu grau de medicina em dois meses. Passou dificuldades financeiras, penou seus anos de estudo por ônibus e lanchonetes, tinha chegado finalmente à porta dourada de seus sonhos

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 08:43
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Uma jovem – Virlanea – ia receber seu grau de medicina daqui a dois meses. Passou dificuldades financeiras, penou seus anos de estudo por ônibus e lanchonetes, mas tinha chegado finalmente à porta dourada de seu sonho.

É fácil imaginar sua alegria, sua felicidade. Virlanea, como tanta gente lutadora e sofrida, merecia uma crônica especial, aquela que nós frequentemente esquecemos. Mas – e horror! – a crônica de Virlanea saiu nas páginas policiais, seu assassinato covarde, seu corpo afundado no rio Grande, querendo talvez esconder a vergonha da nossa espécie que se diz superior à dos animais.

De imediato, como querendo confirmar a monstruosidade dos humanos, nós todos assistimos por cinco dias a agonia de Eloá, a jovem estudante que terminou assassinada, um namorado psicopata, uma polícia despreparada que acredita na valentia da quantidade e nas suas armas e decisões.

Agora e aqui mesmo tem um garoto de 13 anos que está desaparecido, estou desde já na expectativa de nova barbaridade "humana".

Escrevo curto e grosso, se quisesse encheria páginas de todo lugar, vocês viram aquele delegado diretor do presídio ser perseguido por dois carros em plena avenida, e morto com 30 ou mais balaços. Se quiserem mais, acompanhem a briga das polícias de São Paulo, esta é difícil até para brasileiro acreditar. Rezem para não haver troca de tiros e bombas, que nessas quem paga é o paisano assistente.

A coisa não acaba por aí, mudem o canal e vão ver Paquistão, Índia, Iraque, Colômbia, a África toda; diria minha tia Augusta que estamos no fim do mundo. Desculpem-me, agora viro o disco e penso naquilo em que nós todos devemos estar pensand o que fazer, o que nos espera ou vai acontecer?

A humanidade está desorientada, surgem psicólogos, psiquiatras, humanistas, educadores, sacerdotes de todas as religiões – afinal, como entender e estancar a barbaridade do mundo do progresso e das suas maravilhas? Ninguém descobriu ou sabe, mas nós todos temos que admitir, entender e discutir. Vem daí o meu protesto contra os inertes, alienados, desinteressados e fugitivos desta discussão. Políticos donos e responsáveis pelo poder, ONGs e estruturas sociais que recebem subsídios, até líderes e religiões alienadas que esquecem ou marginalizam a gravidade do momento – todos somos responsáveis.

Na minha missa dominical o Evangelho contava a armadilha dos fariseus mostrando a Jesus a moeda de Cesar, e perguntando se era justo pagar-lhe imposto. O Mestre disse apenas: doe a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus. Uma frase simples e final, definindo responsabilidades. Pensei, por um momento, que dali sairia uma homilia atual, vibrante pelos acontecimentos e momentos que estamos vivendo. Qual nada, nosso sacerdote – como tantos – ficou nos comentários daquela época e na mensagem doutrinária. Penso que se Cristo estivesse aqui e agora entraria fundo e rijo nos fatos destes dias, que merecem e precisam de uma Igreja atuante, moderna, capaz de despertar vibrações e atenção dos fiéis. Sermões estereotipados, amorfos, perdidos no tempo e espaço, a meu ver, não enriquecem o papel da Igreja nos tempos atuais. De certa maneira o sucesso das pregações evangélicas utiliza a mensagem cristã por via da atualidade, da ânsia e das necessidades, ameaças e sofrimentos da vida em nossos dias. Penso que nós, católicos, merecemos e precisamos também desta sintonia do Evangelho com nossos tempos e problemas, levando para casa a mensagem enriquecida pelos fatos da vida e suas consequências.

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