ARTICULISTAS

Tempos modernos

O tempo está fechado, como vem acontecendo todos estes dias. Se eu fosse índio, ia afundar a cabeça no chão, porque se não nascer o sol...

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:09
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O tempo está fechado, como vem acontecendo todos estes dias. Se eu fosse índio, ia afundar a cabeça no chão, porque se não nascer o sol estamos no fim do mundo. Não sendo índio, quase acredito que ainda não estamos no fim do mundo – as aparências enganam, como diria o Stanislaw Ponte Preta, meu padrinho literário e filósofo da mais alta competência. Vai daí que fico em casa fazendo revisão de coisas guardadas ou esquecidas num baú velho, exercício que aconselho a todos que detestam chuvaradas e gripes do frio. Vou reencontrando coisas históricas, muitas delas aproveitáveis e inspiradoras, que eu já dava por perdidas.

Achei o livrinho “tia Zulmira e eu” do Stanislaw; matei a saudade. Ao lado e empoeirado o disco amado (música exige rimas...) do Tião Carreiro e Pardinho, um daqueles que um amigo me deu de presente anos atrás, quando me roubaram o original. Pois é, meu chapa, logo de início vem aqueles versos inspiradores: “a coisa tá feia, a coisa tá preta... quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta...” Penso ligeir hoje cedo li meus dois jornais, a Folha de São Paulo e nosso Jornal da Manhã. De acordo com o noticiário, a coisa tá p’ra lá de feia, e não tem nada p’ra lá de Deus, assim vamos ficando na unha do capeta.

Como diria o Dino, este é um ano terrível e perigos gente que nunca morreu ‘tá morrendo... Os que não sabem ou detestam ler estão informados via rádio e televisão. Não existe profissão nem ofício, idade nem sexo, nós todos estamos no paredão dos novos tempos. Há muitos anos (já esqueci quantos) a política era toda acreditada como honesta, e se havia desonestidade ela era tão escondida que ninguém ficava sabendo. Hoje ela é ostentosa, é quase motivo de vaidade para o desonesto. Sem atacar pica-pau ou quero-quero, lembro apenas nosso Newton Cardoso, desmentindo erros da imprensa sobre sua riqueza. Doze milhões... pô, cara, é bilhões, hotéis, casas, 140 fazendas, mais de duzentos carros... e ninguém pergunta em que oficio, profissão ou lavoura ele conseguiu tão sensacional colheita. Os grandes lá de cima ficam calados; mexe nisto não que vai acabar sobrando pra nós...

E lá vem o Dantas com o Opportunity, e o tal Battisti importado da Itália, como se aqui tivesse carência de criminosos... E as novas câmaras de vereadores, logo de deputados estatuais e federais, os governantes todos envolvidos no brilhante esporte da capoeira, que é apenas uma rasteira porque não tem berimbau, nem música, nem graça. Nós todos aqui do povão, sentados na arquibancada, vamos assistindo, sem entender; a vida virou aquele caleidoscópio, cada dia um giro da mão e o desenho já é outro. É, Zé Rico, quem não for filho de Deus... tá na unha do Capeta...

(*) médico e pecuarista

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