No texto bíblico Lucas 4,20, lemos este versícul “Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele”. Para onde os nossos olhos hoje estão apontando e fixos? Onde estão as referências da cultura moderna? Não parece que a Palavra de Deus seja a referência mais importante, principalmente porque os preceitos divinos não contam.
Não é tão fácil colocar em prática as propostas emanadas da Palavra de Deus naquilo que se refere à defesa da vida. Existe muito investimento na falta de cuidado com o outro, muita opressão, gestos de violência e de constante violação dos direitos individuais, mas também coletivos. Com isto, cresce o sofrimento entre as pessoas, especialmente entre os mais vulneráveis e indefesos.
Trilhar o caminho do bem exige das pessoas discernimento honesto, generosidade e vontade autêntica para o gesto de construir e não destruir. É como ter os olhos vidrados nos ensinamentos que conduzem à valorização de tudo aquilo que favorece a dignidade das pessoas. Esta foi a marca fundamental realizada por Jesus, incluindo o seu pedido para que ele fosse imitado por todas as pessoas.
Fazer o bem, como reflexo de encontro com a Palavra de Deus, engrandece a quem o faz, mas também pode sofrer rejeição, ser desfiado pela mentalidade conturbada de hoje e enfrentar riscos nos aspectos político, religioso, econômico e cultural. O que é contra o projeto divino precisa ser rechaçado, porque não ajuda a realizar aquilo que facilita na construção do bem comum para todos.
Ter os olhos fixos em Deus sinaliza o modo de agir do ser cristão, principalmente no aspecto da caridade. Neste momento de tanto sofrimento das famílias flageladas pelas enchentes em várias partes do país, os gestos solidários refletem a grandeza da caridade. Diante da imponência da natureza, a sensação é de impotência total. Sinal de que a humanidade não pode desviar seus olhos de Deus.
O sentido da vida é dado pela intensidade do amor como tudo é realizado, de forma generosa e autêntica, não permitindo fatos que vêm prejudicar e levar ao desmonte das condições divinas e humanas de cada pessoa. É fundamental não perder de vista os valores pétreos da humanidade e que realmente levam ao bem pessoal e social e que possibilitam uma vida feliz para todos.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba