Barbaridade, tchê! Realmente uma barbaridade o que aconteceu no centro de Porto Alegre no dia 25/02/2013. Um morador de rua é assassinado com requintes de selvageria sob o foco das câmeras da prefeitura da cidade. Chutes, socos, pisadas, arrastamentos e, como se fosse pouco, usaram grandes pedras para liquidar com a vida do indefeso homem. Na era midiática, ainda temos execuções em via pública.
No dia 20/04/1997, o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos foi incendiado e morto em Brasília. Aqui, no dia 10/12/2001, o pacífico cidadão A.B.O. teve o corpo todo queimado por inflamável dentro de uma velha Kombi (ver no Fórum Melo Viana o processo de nº 0701.02.001.669-0). O ocorrido em Porto Alegre nos prova que os agredidos não param de existir e os agressores estão prontos para massacrá-los.
No dia 22/03/2006, lançamos despretensiosamente em Uberaba o livro “O andarilho; quem é ele?”. Como efeitos inesperados, vimos surgir na Pç. Dr. Jorge Frange a estátua em homenagem ao andarilho “São Bento” e depois dela vieram: estudos, palestras, peças teatrais, músicas e outros resultados que não pararam mais.
Dois itens sociais gerados pelo livro devem ser destacados: mudou a abordagem dos moradores de rua pelas nossas autoridades. Justiça seja feita ao Cel. Antônio Sousa Filho, então comandante do 4º BPM, que orientou sua tropa a se dirigir aos viventes de rua como nossos semelhantes. Os sucessivos comandantes Sidney Miguel de Almeida Araújo, João Lunardi, Ney Sávio de Oliveira e Ademir Ribeiro de Moura ordenaram a mesma diretriz. Anderson Adauto, quando prefeito, criou a Ronda Social (que não tenho visto circular) com o intuito de acolher nas ruas os nossos desvalidos. Pode ser pouco para alguns, mas para quem está na vala da vida é um resgate válido.
Lourenço Gonçalves de Melo, ex-morador de rua e hoje grande benemérito dos seus antigos pares, nos dá a certeza de que ninguém nasce andarilho da estrada e nem começa a vida vagando pelas ruas. Os dois são literalmente jogados nelas. Cabe-nos ajudá-los retornar à dignidade.
“O homem sujo vem te pegar!” Eis a frase temerosa que a maioria dos pais “emplaca” nas mentes dos filhos para facilitar o domínio sobre a psicologia das crianças. O assassinato em Porto Alegre não terá sido a vingança das crianças do passado contra o homem sujo que carregam dentro? Aquele morador de rua pode ter morrido também por obra dos pais daqueles jovens?! Triste realidade...
(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro