Em Portugal, minha terrinha do coração, todos os anos, em junho, em homenagem
Em Portugal, minha terrinha do coração, todos os anos, em junho, em homenagem a Santo Antônio, o comércio apresenta uma promoção sugestiva. São vendidos pequenos vasos, nos quais, além das flores, há uma plaquinha com uma trova romântica, ou às vezes com picardia. Esse mimo caiu no gosto dos casais de namorados e, por isso mesmo, o produto tem venda garantida.
Um dos poetas portugueses cuja trovinha figura num desses vasinhos é António Corrêa d’Oliveira: “Sino, coração da aldeia;/ Coração, sino da gente./ Um, a sentir quando bate;/ Outro, a bater quando sente.”
E é de José Marques da Cruz esta trova, também encontrada num desses vasinhos: “Na vida, de quando em quando,/ Muita gente de alto tino/ Chupa sal, imaginando/ Que é açúcar muito fino.”
A trova é uma forma poética milenar, originária da Península Ibérica e consiste em um poema com rimas e sem título, com uma só estrofe de quatro versos de sete sílabas poéticas.
Sempre que falo em trovas, lembro-me de que, todos os meses, a poetisa Eva Reis reunia poetas uberabenses em sua convidativa chácara, aqui, em Uberaba. Tive a satisfação de participar de alguns desses célebres encontros, nos quais eu me divertia com as diversas apresentações. Uma delas consistia na declamação de trovas que os poetas às vezes criavam na hora, uma vez sugerido o tema.
É do querido e saudoso João Cunha, sócio-fundador da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, esta trovinha muito inspirada: “Pega do meu coração/ E bota dentro do teu!/ Quando o teu coração bate,/ Dentro do teu, bate o meu!”
E o amigo poeta Sebastião Teotônio Rezende emocionou os colegas acadêmicos com esta trova: “Eu vi minha mãe rezando/ Aos pés da Virgem Maria. /Era uma santa escutando/ O que a outra santa dizia.”
O poeta romântico brasileiro Laurindo José da Silva Rabelo, com sua veia satírica, escreveu: “Cabeça, triste é dizê-lo!/ Cabeça, que desconsol/ Por fora, não tem cabelo;/ Por dentro, não tem miolo!”
E os desiludidos no amor ganharam uma trovinha da pernambucana Benedicta de Mell “Tu fingiste que me amava,/ Eu fingi que acreditei./ Foste tu que me enganaste/ Ou fui eu que te enganei?”
O poeta português Fernando Pessoa usou desta metáfora para mostrar o que é uma trova: “é o vaso de flores que o povo põe à janela de sua alma”. E o escritor brasileiro Jorge Amado foi muito feliz ao apontar toda a força da trova: “é através dela que o povo toma contato com a poesia e por isso mesmo a trova e o trovador são imortais”. Com as palavras desses dois grandes escritores, ficam consolidados o prestígio, o encanto e a vivacidade das trovas.