Estimado leitor, o Partido Comunista do Brasil (PC do B) era uma dissidência armada do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e constituiu um importante foco de resistência
Estimado leitor, o Partido Comunista do Brasil (PC do B) era uma dissidência armada do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e constituiu um importante foco de resistência à ditadura militar durante os anos de chumbo.
Sua ação mais ousada foi a criação da Guerrilha do Araguaia, um movimento guerrilheiro existente na região amazônica brasileira, ao longo do rio Araguaia, entre fins da década de 60 e a primeira metade da década de 70. Seu objetivo principal era fomentar uma revolução socialista, a ser iniciada no campo, baseada nas experiências vitoriosas da Revolução Cubana e da Revolução Chinesa.
O movimento foi amplamente combatido pelo Exército, a partir de 1972, quando vários de seus integrantes já estavam na região há pelo menos seis anos. O palco das operações de combate entre a guerrilha e o Exército se deu onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam fronteira.
Um dos mais importantes participantes da Guerrilha do Araguaia foi Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão. Engenheiro formado na antiga Tchecoslováquia, com um suposto curso de guerrilha na China, uma compleição física invejável e um preparo de atleta. Foi envolvido pela população do Araguaia numa aura de lenda, segundo a qual teria o dom da imortalidade.
Segundo Bruno Ribeiro, autor de um importante livro sobre o assunto, com o intuito de desmitificar a figura de Osvaldão, os militares, depois de matá-lo, em 1974, amarraram seu corpo pelos pés a um helicóptero e o exibiram à população como um troféu.
De acordo com vários relatos que obtive, Uberaba possuía uma célula muito bem organizada do PC do B e uma de suas principais funções era ajudar os guerrilheiros a chegar à região do Araguaia. Nossa cidade, por sua localização geográfica, funcionava como uma espécie de ponto de apoio para aqueles que se deslocavam para o norte do País.
Deve ter sido por isso que, em novembro de 1967, ano em que os primeiros guerrilheiros do PC do B começaram a povoar a região do Araguaia, Osvaldão e mais dois amigos chegaram a Uberaba, oriundos de São Paulo. Entraram pela principal avenida da cidade, desceram até a Praça Rui Barbosa, estacionaram o Fusca vermelho nas redondezas e aguardaram a chegada do contato do partido.
A certa altura, um homem de aproximadamente 35 anos aproximou-se deles e perguntou: você poderia emprestar-me o livro Dona Flor e Seus Dois Maridos? Osvaldão respondeu: infelizmente não o trouxe. Pronto. Era a senha que indicava ser aquele o homem que eles esperavam.
O grupo reuniu-se na casa de correligionários, discutiu sobre os rumos que as coisas estavam tomando e, com o amanhecer do dia, seguiu viagem. Ainda segundo informações obtidas, Osvaldão teria, naquela noite, falado com bastante entusiasmo sobre as ações que o PC do B estava empreendendo.
Bastante fiel ao espírito da época, em que utopias alimentavam ações políticas.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM