ARTICULISTAS

Um caso para crônica

Crível porque os autores do caso, que ora vira crônica, estavam presentes

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 01/05/2012 às 19:43Atualizado em 17/12/2022 às 08:57
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Crível porque os autores do caso, que ora vira crônica, estavam presentes e eu achei o caso bom demais para não ser compartilhado. Eles são amigos antigos, essa coisa bacana de amizade, que se reporta à época da adolescência. Embora, quando a alma está pronta para o desinteresse, fazem-se novas amizades a qualquer momento. Amigos de ontem e de hoje são como filhos, acha-se que se tem um predileto, mas todos são iguais. Não restam dúvidas de que as amizades antigas são mais substanciosas, porque existe nela mais tempo de vida juntos, e, portanto, os sabores das recordações são alargados pelas lembranças. Creio que era isso que eles faziam ali. Era uma festa de bom gosto, com pessoas simpáticas e agradáveis. Os anfitriões merecem uma crônica à parte, que o tempo dará inspiração ao cronista para escrevê-la. Eles trocavam lembranças. Todas as vezes que o amigo casava, chamava-o para ser seu padrinho. Não é possível, novamente você vai se separar? Ouvia-se o amigo lamuriando. “Desta vez será para sempre”. Assim falou ao amigo ao convidá-lo novamente para ser seu padrinho de casamento. “Vou aceitar, mas será a última vez que subo num altar para abençoar um enlace seu”, afirmou categoricamente. Aceitou o convite e, para homenagear o casal, comprou um jogo de cristal. Os copos de cristal tinham desenhos em relevo, de tamanhos variados. Era uma coleção de raríssima qualidade. O preço, nas nuvens, mas não se incomodou e pediu o parcelamento a perder de vista. Os nubentes, ao abrirem o presente, arregalaram os olhos que se fizeram luzes a clarearem o ambiente. Aquele jogo de copos era o predileto para tomar vinho, whisky, licor, cerveja. Era neles que ele buscava o esquecimento. Quanto mais o relacionamento degringolava, mais ele se utilizava dos copos. Ia para cama tarde da noite e pela manhã os copos eram recolhidos e limpos. O desentendimento tornou-se uma constante e nada acontecia para reverter o processo de desgaste, que passaram a viver no cotidiano. Numa noite de extremo ciúme, ela pegou o martelinho de amassar bifes de segunda e passou a quebrar os copos de cristais. Moeu todo o jogo de cristal, não ficou peça que pudesse servir de objeto de lembranças. Daquele momento em diante já estavam dispostos a se separarem, ela quebrou os copos como vingança. Fez como as crianças fazem, quebram o brinquedo do adversário para vingar aquele que não se consegue por a mão. Ele assistiu ensandecido aos seus copos sendo quebrados. Por não saber se chorava mais pelos cristais ou pela separação, preferiu chorar por ambos. Ao contar ao amigo padrinho do sucedido, o companheiro soltou um grito de lamento. “Não é possível, só paguei três prestações desse jogo e faltam ainda mais nove prestações!” No primeiro mês subsequente à separação do casal amigo, ele pagou pesarosamente a prestação do presente. Quando o mês seguinte foi se aproximando, ele se abriu com o amigo. “Cara, o jogo de cristais eu comprei em doze pagamentos e o casamento não durou nem três meses!”. Fitou o amigo, esperou a sua reação de interrogação e lascou o pedido. “Continue pagando pra mim.” E repassou o carnê ao amigo.

 

(*) Professor

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