Era um dia normal, talvez algo mais descontraído por ser festivo. Comemorava-se o Dia de Todos os Santos, a 1º de novembro. Embora fosse outono, época em que o frio e as chuvas vêm chegando ao Hemisfério Norte, relatos contam que fazia sol, e a temperatura não podia ser mais agradável. Na Lisboa de 1755, capital de um país católico, missas decorriam umas a seguir às outras, em igrejas maravilhosas e, mesmo em casa, devotos mantinham velas acesas.
Ao meio da manhã, alguns cidadãos detectaram algo inusitado. Sem que houvesse vento, os papéis e pequenos objetos se moviam sobre as mesas. Depois começou-se a ouvir um barulho, a princípio baixo e algo difuso, que cresceu até um nível ensurdecedor. E a terra tremeu.
Estima-se que o terremoto de Lisboa tenha durado de três a seis minutos, atingindo algo entre 8 e 9 graus na escala Richter. As construções da época, fossem casas, igrejas, ou palácios, não estavam preparadas para um evento dessa magnitude. Mais da metade da cidade foi abaixo.
Não se sabe quantas pessoas morreram soterradas, mas muitos sobreviventes ainda tentaram se salvar correndo para áreas abertas, ainda mais porque alguns incêndios já ardiam, em decorrência das velas tombadas. Aqueles que correram em direção ao rio Tejo se depararam com mais uma visão insólita. Onde estava a água? O rio havia recuado, a ponto de os navios atracados no porto terem ficado encalhados.
Então, veio uma “montanha de água”, como relatos descreveram o tsunâmi que veio a seguir. Houve quem conseguisse escapar somente por estar a cavalo, porque correr a pé não adiantou. Depois da primeira onda, outras duas voltariam para completar o cenário surreal.
As águas ainda poderiam ter trazido um benefício, apagar os incêndios, porém não chegaram para tanto, e as chamas lavraram por vários dias. Levantamentos posteriores conduzidos por Marquês de Pombal, líder da reconstrução, indicam que morreram mais pessoas em decorrência dos incêndios do que do terremoto. Esses levantamentos, muito detalhados, foram a semente da sismologia, que, diferentemente dos que viram no terremoto um castigo divino, buscaram compreender o fenômeno natural com método científico.
O exercício simulado “A Terra Treme”, liderado pela Proteção Civil e, ainda hoje, conduzido anualmente em toda a extensão de Portugal, prepara cidadãos e equipes de emergência para um cenário de catástrofe.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica AnaMariaLSVilanova@gmail.com