Tudo que acontece no mundo visível faz eco no coração das pessoas. Determinadas situações causam compaixão e cuidado. É o que fez o samaritano quando encontrou uma pessoa estranha caída e machucada pelo caminho. O estranho era uma pessoa humana com todos os direitos de ter uma vida digna e ser curado, que foi capaz de sensibilizar o coração do samaritano para um gesto de solidariedade.
A prática do samaritano desafia a cultura do indiferentismo da vida moderna. Ele fez um gesto de compaixão para com uma pessoa desconhecida, revelando a misericórdia de Deus que não faz distinção entre os seres humanos. Aliás, existe um apelo universal que diz: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt 7,12). É ser misericordioso como o Pai é misericordioso.
Numa realidade de tantas migrações no mundo, parece que as pessoas se tornam muito estranhas e pouco compreendidas. No sentimento da Palavra de Deus, principalmente dentro do apelo para o amor fraterno, nenhum irmão pode ser considerado estrangeiro e impossibilitado de ser acolhido. “Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (I Jo 4,20).
Só damos sentido para a vida quando conseguimos construir pontes, proximidade e acolhida. O instrumento para isso é a prática do amor. Do contrário, as pessoas são sempre estranhas no caminho. Foi o que aconteceu com o sacerdote e o levita, na cena da parábola do bom samaritano (Lc 10,30-37). Eles não conseguiram priorizar o que era mais importante naquele determinado momento.
A tentação é de se desinteressar totalmente pelos que são mais frágeis e vulneráveis, de olhar para outro lado, de passar à margem e ignorar as situações que estão por perto. Um exemplo disso é quando uma pessoa atropela alguém na rua com seu carro e foge sem prestar socorro. Não importa se ela morre por sua culpa. Isso tem sido comum. É sinal de uma sociedade enferma.
Retomando o bonito gesto do bom samaritano, sentimos que o mundo precisa reconstruir sua vocação em ordem política e social. Só assim poderá evidenciar o valor do tecido das relações no contexto do bem comum, como realidade requerida para colocar em prática o projeto que humaniza as pessoas. A saída é ser como o bom samaritano e não como o assaltante que age para destruir o outro.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.