Por algum tempo a pequenina ave tentou disfarçar bem o seu metódico trabalho.
Embora fosse vista com frequência na varanda, conseguiu fazer, sorrateiramente, numa samambaia, o seu minúsculo – e bem acabado – ninho, que só foi descoberto por acaso, tão bem camuflado estava.
Uma vez descoberto, é claro que a curiosidade nos levou a pesquisar se havia alguma coisa ali dentro. E havia: dois minúsculos ovos, que a mamãe beija-flor cuidava de chocar, com extrema dedicação.
A avezinha nem se importava com a presença das tantas pessoas que passaram a vigiar seus movimentos. De vez em quando saía do ninho para procurar comida, mas logo estava de volta.
E nas saídas da mamãe, podíamos verificar o estado dos ovinhos. Dias depois nasceram os frágeis filhotinhos. Precisamente dois. Nos primeiros dias ficavam bem quietinhos no fundo do ninho. E já nesses tempos mostravam a boquinha aberta à espera de alimento.
É prazeroso observar o vôo da mamãe beija-flor e o seu retorno para perto da ninhada. Então, ela não entra no ninho, mas pousa na beirada e vai inclinando o biquinho com o alimento para dar aos filhotes. Muita dedicação, sem dúvida. Às vezes a comida parece não bastar, e lá vai ela pelos ares, buscando o necessário para dar cabo daquela fome insaciável.
Percebendo a prole alimentada, aconchega-se dentro do ninho. Os dois filhotes são levadinhos e ficam assim, irrequietos, parecendo até aborrecer a mamãe beija-flor, que se move intensamente. Dois filhotes implumes. Por quanto tempo experimentam essa condição! Chegará o momento certo em que estarão prontos para voar.
É triste quando depois de tanto trabalho a mamãe beija-flor perde algum filhote! Neste mesmo lugar onde está o ninho da mamãe beija-flor, uma rolinha chocou dois ovos; os filhotes nasceram e cresceram. Cresceram tanto, que a mamãe rolinha não teve mais como entrar no ninho. Uma noite, de repente, aqueles dois filhotes, por algum motivo, caíram ao chão. E de manhã foram encontrados já sem vida.
No berçário do quintal, no pé de urucum, uma outra rolinha está há algum tempo deitada sobre ovos. Vento, sol, chuva, noite... nada tira a mamãe rola do ninho, bem alto, nas ramas da árvore. Não é possível examinar o interior do ninho, tal a altura dele. Resta-nos acompanhar o choco e esperar pelo nascimento dos filhotes.
Enquanto isso, vamos acompanhando o desenvolvimento dos dois beija-flores, e admirando a dedicação, o carinho e o esforço da mamãe beija-flor para manter alimentados os filhotes.
Lemos uma reportagem, recentemente, sobre uma senhora que estava alimentando justamente filhotes de beija-flor. Talvez tivesse morrido a mãezinha deles, daquelas criaturas tão pequeninas...
Ficamos na expectativa de que a mamãe beija-flor se mantenha com sua esbelteza e com sua capacidade de alimentar a prole. Aliás, observar a mamãe beija-flor cuidando dos filhotes é mais gratificante que ficar grudado no noticiário, aborrecendo-nos com a violência que anda por aí ou com a última crise financeira. Ainda bem que a mamãe beija-flor não tem dinheiro aplicado na bolsa de valores. Já imaginaram a avezinha se lamentando com as grandes perdas no seu patrimônio? Poderia até se esquecer dos filhotes, ora!
A mídia, que sempre aponta o que foge aos padrões, muitas vezes nos mostrou mães que foram exceçã abandonaram os filhos recém-nascidos jogando-os no rio, colocando-os na lata de lixo... porém, a mãezinha beija-flor nunca faria isso. Como a maioria das mães, ela também é um verdadeiro exemplo de mãe.