O GP de Abu Dhabi pode e deve ser considerado como o GP das mil e uma noites da era moderna, pois o circuito é praticamente uma obra dos sonhos. Não existe nada igual no mundo. É uma demonstração de como o dinheiro e o bom gosto podem produzir obras inimagináveis. O lugar é a oitava maravilha do mundo em termos de autódromo. Situado nos Emirados Árabes, essa é mais uma amostra do poder do petróleo no mundo de hoje. A pista é magnífica e emocionante, sem falar nos belos locais temáticos, criados com extremo bom gosto. Desta feita o Verme escolheu o lugar perfeito. Criaram um local no qual não existem adjetivos para qualificá-lo. Simplesmente demais. Sinto pelo Felipe Massa, que não vai poder estrear esse circuito e pode fazer falta, também, no final da próxima temporada. Apesar da pressão de Maranello, nosso piloto só deve voltar em 2010. E, assim, certamente os italianos devem perder o terceiro posto do campeonato dos construtores para a McLaren, que seria o primeiro entre os grandes. Na coluna passada, preocupado em comentar sobre a prova, faltou espaço para comentar os bastidores das arquibancadas que visitei no sábado. De posse de uma credencial de serviço, a conhecida “S”, pode-se percorrer áreas por detrás das arquibancadas e, com um pouco de jeito, consegui visitar alguns setores proibidos aos simples mortais e até algumas arquibancadas. O segredo é pegar o fiscal de surpresa. Este fica encarregado de cuidar da portaria dos fundos das arquibancadas, que oficialmente não existe. Isto é, ele está lá para conferir se realmente quem passa por lá está mesmo de serviço na hora do evento, pois, com o passar dos tempos, eles enxergaram que há pessoas que portam essas credenciais sem pertencer ao quadro de trabalhadores do evento. Como não tenho acesso à credencial que me dá direito ao livre acesso aos boxes, tenho que me contentar com essa. Mesmo clandestinamente, ela me permite chegar até os boxes das categorias que antecedem a prova da F-1 (neste ano eram a F-3 Sul-Americana e a Porshe Cup). Infelizmente, desta vez minhas andanças pelos bastidores duraram pouco. Antes das 10h30, fui descoberto, e rua. Este ano separaram os boxes dessas categorias. A F-3 estava no velho e tradicional lugar de sempre, o Kartódromo, mas a turma da Porshe foi deslocada para uma área longe e estranha. Foi a caminho dessa área que derrapei. Das duas uma: ou já fui melhor nisso ou esses fiscais ficaram mais espertos. Na visita às arquibancadas notei que não existe lugar mais bucólico que aquele onde os ocupantes são convidados e, na maioria das vezes, não gostam do evento, estando ali apenas para marcar presença. Já numa arquibancada paga e que o ingresso não é dos mais baratos, o clima era bem mais eufórico. Mas nada se compara à turma que habita o setor sul da G, onde os bólidos freiam para contornar a curva do fim da reta oposta. Esse lugar é sempre lotado, mesmo se estiver nevando. O barulho dos carros freando e reduzindo torna tudo mágico. O mais estranho, porém, são as figuras que habitam essa areia. Tem tipos de todo jeito, alguns fantasiados, outros com megafones e, aparentemente, todos altamente tontos. Um grupo que chamou atenção este ano era o dos Barriquetes, formado por senhores de meia-idade, com uma vestimenta branca e colada ao corpo. Muitos deles usando miniblusas (seus manequins eram na maioria bem barrigudos) e sempre portando uma peruca loira. A aparência é de estão bem-humorados, de bem com a vida e com o álcool. Só vendo para entender e acreditar. Nesse local vemos muitas coisas estranhas e engraçadas e algumas não comentáveis. É um mundo à parte no autódromo, pois nem aquela chuva de sábado abalou essa galera. Foi um dia para se esquecer em termos de sofrimento físico; muita chuva e frio, potenciados pelos pés molhados. É preciso gostar muito de automobilismo e agradecer por ter uma etapa no quintal de casa, pois quem não é do ramo acha que tudo isso é um programa de índio. Em tempo, tanto a classificação quanto a corrida de Abu Dhabi serão às 11h, sábado e domingo, respectivamente.