Havia em Uberaba um estabelecimento comercial onde era possível encontrar qualquer tipo de mercadoria. Dizem até que, certa vez, desejando testar o proprietário, um freguês fez um pedido inusitad “Preciso de três gatinhos novos!” E o proprietário, sorridente, retrucou: “Melhor levar quatro, que a gata deu cria essa noite!” E a fama da casa comercial onde havia de tudo ficou fortalecida. Mas tanto essa, quanto a história que se segue, sobre a venda de um machado nesse mesmo estabelecimento, podem ser boatos, já que boato é que não falta na boca do povo.
Num final de expediente, um empregado se desesperou por não lembrar mais a qual freguês havia vendido um machado. E comunicou o fato ao dono do estabelecimento, que, astuto, disse ao empregado para anotar a venda de um machado na caderneta de todos os fregueses. E o empregado assim o fez. (Tempinho bom aquele em que se comprava tudo pela caderneta... Confiança do comerciante no freguês e vice-versa.)
Chegado o dia de quitar a conta, alguns fregueses reclamaram a respeito da compra do tal machado em sua caderneta. Nesses casos, o comerciante se desculpava: havia sido uma falha do empregado. Pedia desculpas, riscava o machado, e o freguês quitava a conta. Verdade é que poucos reclamaram, o que fez com que o tal machado garantisse bons lucros ao comerciante.
Lembrei-me dessa última história ao receber uma fatura de consumo mensal acima da média dos outros meses, sem motivo. Tive a impressão de que a empresa responsável havia debitado um machado em minha conta...
Fiquei matutand com os recursos da informática, que possibilitam o controle na emissão das faturas mensais, é possível inserir um machado em muitas contas, especialmente nas de maiores valores, sem que percebamos. E se o problema for notado por algum consumidor, haverá sempre explicação razoável por parte da empresa como, por exemplo, uma falha no programa. E o machado será retirado da conta.
O Código de Defesa do Consumidor garante nossos direitos. E há quem se valha dele para conseguir bem mais que um machado cobrado indevidamente; porém, se quisermos evitar aborrecimentos futuros, precisamos de tempo e perspicácia para conferir todas as nossas contas, ou acabaremos pagando por algum machado não comprado.