Nesse trinta e um de dezembro, movida pelo desejo de “estar com” a minha equipe do SAMU e também pela vontade de fugir do lugar comum, optei por passar a noite de Ano-Novo trabalhando. Juntei-me, por volta das 9h da noite, ao nosso pequeno contingente composto dos médicos Gilson e Cíntia, da enfermeira Karina, das técnicas de enfermagem Lília, Walli e Gisele, dos motoristas Arnaldo, Paulo, José Antônio, Cleomar e Lazir, dos técnicos auxiliares de regulação médica Salvador e Sílvia e dos vigias noturnos, Ecir e Paulinho. Trocamos o brilho da festa por macacões azul marinho que, de brilhante, só possuem as faixas refletoras para sinalizar nossa presença nos locais mais inusitados. Montamos nossa pequena ceia sem os pratos tradicionais e sem o champagne borbulhante e que, por sinal, acabou não sendo desfrutada em conjunto porque não estávamos todos na Base na hora da virada do ano. A estatística do movimento da noite resumiu-se em apenas dois atendimentos por questões de saúde, dentre elas uma parada cardiorrespiratória que foi revertida com sucesso. Os dez demais deslocamentos foram para atender dois acidentados por queda de moto e intercorrências decorrentes do uso abusivo de álcool e/ou agressão física, ficando difícil de não relacionar uma coisa com a outra. Seis vítimas foram levados para Pronto-Atendimento no CAMM ou Centro Médico Abadia e quatro liberados no local, havendo quem reclamasse do SAMU por não deixá-lo em sua própria casa após a festança... Houve ainda o caso em que o usuário só aceitou ser transportado se pudesse levar sua fiel escudeira, uma cachorrinha! Cinco pedidos de socorro resolveram-se com orientações via telefone; um acidente entre carro e bicicleta foi caso repassado ao COBOM e sete transportes de casos não-emergenciais foram realizados pela Águia. Pude experimentar na pele a insegurança vivida por nossos profissionais, quando, ao atendermos a uma vítima de séria agressão física às 3h15 da manhã, bateu aquele medo do agressor aparecer armado para completar “seu serviço” e, como se diz na gíria, “sobrasse para nós!”. Como em nosso cotidiano, entre os cumprimentos e votos de Feliz Ano Novo, não fomos poupados dos xingamentos desrespeitosos pelo não-atendimento às situações que não eram de urgência ou emergência. Fica aqui, por meio desse artigo, às pessoas, aos meus colegas de trabalho citados nominalmente, o meu profundo e extensivo respeito a todos àqueles que em profissões irmãs, tanto na área da Saúde como da Segurança Pública ou Privada, trabalham rotineiramente ou passaram as suas festas de fim de ano a serviço de nossa comunidade. veuberaba@hotmail.com.br; mestre em psicologia, psicóloga clínica e presta atenção psicológica à equipe do SAMU de Uberaba.