Meus bons e até fiéis leitores sabem que eu gosto muito de variar assuntos aqui nestas crônicas. Mexo com tudo e com todos, às vezes puxo uma linhazinha no rio da vida, um lambari à-toa – e atrás dele vem um dourado gigante. Hoje, ilustradamente, vou contar-lhes o caso de uma árvore linda e suas aventuras pela vida. A árvore chama-se guapuruvu, tem uns trinta metros de altura, está na beira da rua Paulo José Frange, quase esquina com este final da Mato Grosso. Talvez seja a mais alta aqui da minha Vila de Santa Maria.
É frondosa e elegante, não permite ramos baixos, seus galhos estão lá nas alturas, divididos em dois, sendo que um deles – o mais forte – está debruçado sobre a rua, numa atitude ameaçadora, evidenciada por dois tocos que já caíram. O guapuruvu não é esperto em flores, apenas produz toneladas de folhas e sementes anexadas que vão caindo sobre a rua e as casas do outro lado, os vizinhos vão desentupindo ou trocando suas calhas. Um pequeno drama de momento, porque se esta árvore cair, o desastre poderá ter dimensões imprevisíveis – a rede CEMIG, as casas, automóveis e habitantes, até algum curioso que venha tirar sua fotografia. Pois bem, meus amigos, a história prossegue, agora implicando providências, destinos e comportamentos pessoais e oficiais.
Eu fui o primeiro preocupado com a árvore bonita, talvez por comparação com a vida, que ensina serem mulheres bonitas as mais perigosas... Não conseguindo audiência com o proprietário da árvore, invoquei os meios oficiais para analisá-la. Fui à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, coisa da moda mais atual e importante. Pedi e me atenderam: o Sidney foi destacado para avaliar e doutrinar. Veio, classificou a árvore, fotografou-a, calculou sua idade e aqueles galhos já quebrados, e fez laudo da sua inspeçã esta árvore é de madeira frágil e inútil, é perigosa porque com a idade todas caem sem aviso prévio. E concluiu: deve ser suprimida (termo oficial e bacana). Isto há alguns meses, visitas ao proprietário, de início renitente e agora concordante. Segue o andor: quem vai suprimi-la?
E aí chegamos ao Brasil. Deve ser o Corpo de Bombeiros, que, acionado, diz que necessita mandado judicial, que é solicitado e o promotor despacha que não tem nada a decidir ou mandar, isto é rixa entre vizinhos, tô fora desta!... Bem, tudo retorna à Secretaria e seu pessoal. Com o secretário só estive uma vez, ele nem deve conhecer esta árvore, ou a Vila Santa Maria e como assumir os caminhos e solução. Veio o Tiago, funcionário substituto, contatou o Corpo de Bombeiros, que voltou ao local, mais burocracia, não tem equipamento (?) para a função, antes pediram o mandato judicial não obtido, agora é coisa de escada, caminhão, sei lá o que mais. A linda árvore vai persistindo, seus ramos gemem ao vento forte, ou estão rindo deste Brasil incapaz. Ah, mas se ela decidir cair, aí vai virar notícia grande, fotografias, perguntas embaraçosas do povo e da imprensa... e, coitados dos meus vizinhos, que nem avaliam o que irão perder neste desastre, tão avisado e tão sem culpado. Aí eu vou ganhar e escrever uma nova crônica: era uma vez uma árvore bonita... (*) médico e pecuarista João Gilberto escreve às quartas-feiras neste espaço