Já faz tempo quando o Paulo Sarkis, na TV, me pediu para citar o nome de uma pessoa (ou de um fato) que marcou minha vida. Os termos “fato” ou “pessoa” abrem um leque de significados. Pode ser um evento, uma atitude, uma decisão, um exemplo de vida. O pedido não diz que seja um fato que tenha tido influência na comunidade. O que me pediu foi um fato que “para mim” teve significado e marcou minha vida.
Podia dizer que foi a atitude de Dom Alexandre nos dias de chumbo do Golpe Militar. Já escreveram muito sobre isso. Andam até exagerando um pouco. Não vou insistir. Quero falar sobre uma pessoa: a figura de Monsenhor Eduardo Antônio dos Santos. Foi ele quem me recebeu no Seminário, exatamente no dia 2 de fevereiro de 1935. Veio de Goiás, trazido por Dom Eduardo, quando transferiu a sede episcopal para Uberaba. Já ordenado padre, filho da cozinheira da residência episcopal, negra, casada com um rapaz mais claro, funcionário da diocese. Tiveram três filhos. Os três se ordenaram padres. Bem, Monsenhor Eduardo foi a pessoa que mais me influenciou em minha vida. Não fosse ele, eu não teria chegado aonde cheguei. Quando meu pai perdeu tudo, em 1937, sem condições de pagar meus estudos, minha mãe foi buscar-me de volta para casa. Monsenhor não permitiu: “De modo nenhum, é um bom menino, bom aluno. Vai ficar aqui comigo, vai estudar gratuitamente”. Assim fiquei até me formar. Monsenhor era um homem de fé, exemplo de educador, de pessoa emocionalmente equilibrada. Possuía um coração ungido de ternura e compreensão. Não exibia poder, mas era de uma autoridade impressionante. Não humilhava ninguém nem demonstrava preferências por ninguém. Era um homem justo, corrigia sem ofender. Foi com ele que aprendi a não confundir poder com autoridade. Foi com ele que aprendi a tomar decisões e não deixar as coisas rolarem para ver como ficam. Sempre o víamos horas seguidas na Capela, de joelhos, de olhos fechados, orando. Jamais o vimos humilhar ninguém nem impor sua própria opinião. Para mim foi um “pai”.
Monsenhor Eduardo está, hoje, junto de Deus na dimensão da eternidade. Sei que, de lá, continua olhando por mim. Sua bênção, querido mestre, querido pai!