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Uma nova vida?

Fui nascido em outros tempos, bem antes da Segunda Guerra Mundial e o monte de mudanças que nela nasceram. Fui primariamente educado nos costumes e leis da época anterior

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 30/09/2009 às 20:27Atualizado em 20/12/2022 às 10:24
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Fui nascido em outros tempos, bem antes da Segunda Guerra Mundial e o monte de mudanças que nela nasceram. Fui primariamente educado nos costumes e leis da época anterior, onde o ensino exigia absorção total das tradições sociais, morais e religiosas de séculos passados. A juventude era compartimentada, tinha muros e paredes intransponíveis, que não podia discutir, discordar, nem mesmo diferente pensar. Imaginem que havia livros proscritos, que ninguém podia ler, a não ser com aprovações e interpretações eclesiásticas, morais ou cívicas. O ensinamento e a formação da juventude – e por aí do homem ou da mulher futura – eram imperiais, dominadores e definitivos. Aqueles que discordassem eram chamados revolucionários, marginais, excluídos da bem comportada classe e ética existencial. Olhem, e acreditem: apenas os religiosos, padres e teólogos podiam ler a Bíblia – o leigo estava fora, seu pensamento pessoal poderia ser profano e até pecaminoso. No meu caso de catolicismo familiar e tradicional o que se podia fazer era apenas escutar, baixar a cabeça, aceitar e concordar. Nem gosto de voltar lá atrás, nos meus tempos de colégio marista rígido e tradicional. Devo e agradeço ao nosso Colégio Diocesano, então 100% dos irmãos maristas, uma grande parte da minha disciplina e aprendizado cultural. Entretanto, hoje amadurecido, mais liberal e consciente – os anos também são professores! – lembro que tive um colega de ginásio cuja família era protestante, e como ele jamais pôde dar qualquer testemunho ou opinião sobre sua fé, que era também cristã – era um pecador... Bem, meus bons leitores, de onde e por que estas linhas iniciadas? Chego lá. Deus me deu longa vida e me permitiu vazar do século vinte até este vinte e um. A vida também é professora, e eu mesmo me surpreendo com as mudanças do tempo atual. A liberdade do pensamento foi para mim a grande revelação da vida. Um perigo, esta liberdade, mas com certeza é também essencial para o pensamento humano, para enterrar códigos inaceitáveis e depressivos. Bem entendida e aplicada, esta liberdade é confortadora e formadora da nova personalidade do homem, da sua vida, moral, costumes e religião. Olhem, neste domingo de missa escutei atento o sermão do meu pároco e teólogo – padre Fontes – expondo caridosamente o respeito, a aceitação e a fraternidade de todas as religiões voltadas para o bem. O isolamento e absolutismo de um catolicismo histórico, opressivo e exclusivista – só ele pode salvar! – foram demolidos, porque a salvação vem lá de dentro, da alma, do sentimento e da caridade. Conceitos, dogmas e religiões são válidos apenas quando constroem o homem bom trabalhando para um mundo melhor. Reconhecer esta nova fraternidade é que vale para a outra e definitiva vida. Aliás, estico ainda mais a borracha: ela será só e apenas esta?

(*) médico e pecuarista

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