Desde que a humanidade saiu da idade da pedra, ela veio se constituindo e legalizando através normas e leis – a forma encontrada para possibilitar sua construção em sociedade. De início, o chefe da primeira tribo ou família era o mais forte. Com porrete na mão impunha sua autoridade, matava algum desafiante, escolhia a ou as fêmeas que lhe interessavam, comia em primeiro lugar e deixava o resto para o resto. Com o tempo, naturalmente, ele envelhecia e um desafiante jovem liquidava a porretadas o seu reinado. No caminho da civilização, a sociedade teve que se organizar, as lutas familiares tiveram que se associar em grupos cada vez maiores e mais poderosos, a verdadeira lei da sobrevivência e domínio. Começou assim a era da civilização, e com ela as leis e a organização do Estado. Os bárbaros isolados fugiram para o recôndito de ilhas e florestas, que hoje em dia estão devastadas pela civilização organizada e dominadora. Caramba, isto está parecendo aula de História Natural e eu não quero perder o rumo, vamos lá. A sociedade civilizada criou dentro de si uma quantidade de outras sociedades menores, cada uma cuidando da sua área e legislação. Nasceram por aí os donos do poder, os governantes e legisladores, políticos, militares, religiosos e tudo mais com o que convivemos atualmente – as leis e o Estado. A experiência, a cultura, o saber e a própria evolução humana foram derrubando situações arcaicas e substituindo-as pela liberdade de pensar, de agir e de viver em moldes chamados modernos, porque contrariam aquele que a própria vida demonstrava ser impossível para a inteligência humana. É desnecessário citar episódios desta evolução, onde muitos seres humanos pagaram caro por sua ousadia. Lembro, só como exemplo, daquela velha senhora inglesa que fazia chá com flores da planta digitalis, dava seu chá a pacientes cardíacos em fase final de inchação e canseira. Resultad as pessoas desinchavam, saiam do estado que chamamos anasarca, voltavam a vida. A velha do chá? Bem, ela foi chamada de feiticeira, de posse do diabo e foi queimada na fogueira. É ruim, né? Bem, tudo isto aí que está escrito sobre a história do homem foi-me despertado porque o bispo Lugo, atual presidente do Paraguai, andou fazendo uns filhos extramatrimoniais, e contra a lei clerical. Sempre me bateu de frente o anacronismo da minha Igreja Católica, exigindo dos seus sacerdotes a castidade absoluta, antimatrimônio. Lá no princípio, Jesus escolheu para seus apóstolos homens casados – até curou a mulher de Pedro. Depois de crescida, a sua Igreja decidiu num concílio, que sacerdotes são obrigados à castidade e celibato eterno. Primeir nunca entendi como este padre pode celebrar casamento e aconselhamentos aos que ele está casando – e tendo zero de experiência no assunto. Não vou esticar-me pelos dramas do sexo reprimido, imoral e pecaminoso. Muitos seminaristas, padres – e agora até bispo – foram e são vítimas desta legislação anacrônica e antinatural. Quanto de pedofilia, pederastia, imoralidades e fugas clericais estavam, estão e estarão acontecendo por esta situação, que nossa Igreja Católica insiste em manter e obrigar? Por que o padre não pode casar, meu Deus? Será por que o sexo é pecaminoso e odiento? Conheço padres que por isto “deixaram” a batina, mas continuam exemplos de vida cristã. E também o contrário. Se meu pensamento e palavras forem pecaminosos, que tudo fique no lugar. Meu Deus, lá de cima, tenho certeza que me perdoará. Encerro com aquela frase que já citei: os homens julgam o que não conhecem – só Deus julga o que conhece.
(*) médico e pecuarista