Faz parte da nossa história e hábitos colaborar com entidades que se dedicam ao que chamamos “caridade”. Por muitos e longos anos estas entidades foram compostas por associações onde os diretores nunca recebiam pagamento de qualquer espécie – pelo menos aqui neste mundo. Algumas tornaram-se exemplos de trabalho e organização, por vezes até de caráter internacional, como o Rotary. Entretanto a dedicação e caridade exigem perseverança e continuidade, o que não é fácil – e muitas iniciativas nobres terminavam por desaparecer, por diversas razões: morte de seus criadores e mantenedores, perda dos recursos financeiros, ausência de novos colaboradores. Outra informação social de importância prende-se à finalidade e repercussão dos objetivos e valor da caridade empenhada. Uma coisa certa e evidente: as associações que se dedicam a objetivos mais frequentes e importantes recebem maior apoio e maior adesão de colaboradores. Muitas recebem apoios da estrutura política e governamental: a sociedade toma delas conhecimento e devolvem-lhe colaborações de toda espécie. Outras, embora meritórias, têm pouco interesse e penetração na sociedade, sua vida pode ser curta e ignorada. Este meu xarope social foi fermentado quando fui conhecer a ACD (Associação de Crianças Deficientes). Um fator de conhecimento está ligado a meu relacionamento pessoal e familiar: tenho uma irmã que pertence ao grupo dos deficientes – físicos e mentais. Maria Aparecida pôde estudar e desenvolver-se até um status superior, passou dos estudos, da APAE e da ACD. Entretanto um número grande de excepcionais não tem estes apoios, porém merecem – e necessitam de centros de convivência e aprendizado para serem realmente “seres humanos”. A ACD foi criada e dedica-se a este atendimento. Fui visitá-la, admirador que sou dos que dedicam aos marginalizados “sem culpa”. Esta estrutura está sob sério risco de fechar. Recebem algum apoio de estrutura política e dinheiro, está tentando construir uma sede própria para seu público. Não é fácil, como sempre acontece, pior para os deficientes e marginalizados. Encurtando, pode ser simplesmente “fechada”. Os interesses da política e seus poderosos têm aplicações mais rendosas e eficientes – mexer na marginália gera votos. Simples, penso. Complexo, ouso dizer: quem e quais da atual estrutura política poderão se interessar em salvar e efetivar a ACD? Quem quiser poderia ter-me acompanhado à festa de confraternização que os “alunos” fizeram. Barulho e alegria pura, em físicos, rostos e funções sofridas. Poderão acabar, se os poderes políticos não se interessarem. Será uma pena. Uma pena mais pobre ainda, porque eles não se defendem.
(*) Médico e pecuarista