Com o término da temporada da F-1 2009, podemos concluir que essa foi uma disputa surpreendente. Primeiro, os desavisados irão achar que uma equipe novata, com um carro branco, como víamos nos anos 70, foi campeã. Mas a verdade é que a novata Brawn é apenas a velha e gastadora equipe Honda, usando um motor Mercedes. Enfim, quem bancou tudo foram os japoneses que, comandados por Ross Brawn, que não foi o projetista do carro como dizem, passaram a maior parte de 2008 desenvolvendo esse carro. Mas na hora H, os japoneses abandonaram o barco e a Brawn assumiu toda estrutura que a Honda criou em Barckley, por um valor simbólico de uma libra esterlina. Obviamente, o “inglesão” tem seu valor, pois foi ele quem deu a cara à tapa e também foi quem achou uma maneira de tocar a equipe nos quatro primeiros GP’s, com um orçamento pequeno. Mas seu maior trunfo veio de Max Mosley, que foi quem deu aval para um projeto meio que fora do regulamento, e que por questões políticas acabou valendo, mas não vamos entrar nesse mérito. A verdade nessa questão é que os japoneses da Honda jogaram fora seu maior trunfo, a maior ferramenta de marketing perdida na história da F-1. O segundo fato curioso, surpreendente e inesperado foi a hegemonia de Jenson Button, vencendo seis das primeiras sete corridas do ano. Ao olharmos mais friamente, vemos que isso tudo foi conseguido com a ajuda da Brawn e da velha sina que seu companheiro de equipe carrega consigo. Button foi forte somente até o GP da Inglaterra e, volto a repetir, com a ajuda da equipe, a partir daí passou por momentos de falta de estrutura psicológica, como qualquer amador, apesar de toda experiência na F-1. No final falou mais alto o bairrismo inglês reinante dentro da equipe. Quem fez bonito nessa temporada foi Vettel. Mesmo começando o ano com uma péssima impressão na corrida de abertura na Austrália, Vettel, assim como Webber, cresceu muito. Houve momentos em que Webber, por sua regularidade, parecia que seria mais eficiente que o jovem alemão. Mas no final valeu mais a garra e o braço de Vettel. Nada dessas performances existiriam sem o gênio Adrian Newey. Foi ele quem criou o melhor carro dentro do regulamento e quem melhor conseguiu adaptá-lo às novas regras, sem esquecer que a McLaren também fez um senhor carro depois da segunda metade do campeonato. Na equipe Red Bull, o mais estranho foi o caso dos motores Renault, que a equipe usou em 2009 e diz que vai usar em 2010, que falharam feio na metade da temporada e geraram suspeitas de toda ordem. A Red Bull chegou ao cúmulo de abdicar do treino de sexta-feira, para economizar motor para cumprir a cota de oito motores no ano. Mas nos GP’s do Brasil e Abu Dabi ninguém tocou no assunto e os carros treinaram todos os dias. Foi como se o problema não existisse mais. Mas a temporada 2009 também vai ser marcada por ser aquela em que o campeão foi um piloto que vai ser esquecido com o passar dos anos. Mais ou menos como o campeão de 1958, se bem que este morreu e não pôde defender o título, mesmo assim não tem nada a ver com os grandes nomes da época. Ele é um nome que soa estranho, como um ser fora do contesto, assim como os outros dois ingleses que foram campeões e nunca mais fizeram nada. Ao contrário de Stirling Moss, um inglês que sempre foi vice, mas sempre foi um grande piloto. Como um brasileiro que conhecemos, sempre estava no lugar certo na hora errada, ou mesmo no lugar errado e na hora errada. Ou seja, cumpriu seu destino, não adianta ser apenas ótimo para ser campeão. Hoje em dia, a sorte e uma série de interesses têm de conspirar a seu favor. Voltando aos dias atuais, a saída da Toyota só nos deixa uma grande tristeza. Kobayshi poderia ser uma vaga certa no time nipônico e agora pode cair no esquecimento. Esse piloto merecia uma chance no circo. Pena que os investimentos japoneses minguaram na hora errada também no caso da Toyota, e que investimentos foram os da Toyota. As montadoras estão, aos poucos, deixando circo. Em 2008 foi a Super Aguri, que era uma filial da Honda, depois foi a própria Honda. Em 2009, a BMW, a Toyota e possivelmente a Renault, que pode sobreviver como fornecedora de motores. Restam ainda a Mercedes, velha parceira da McLaren, que, ao contrário do resto, também investe na Brawn, e a Fiat, dona da Ferrari. Ferrari esta que vive da carreira nas competições ao contrário das outras. A categoria deve voltar a ver os pequenos construtores entrarem em campo e, como no passado, com um motor Cosworth (inglês). Será uma nova era dos garagistas que, na verdade, têm apenas Frank Williams como representante hoje. Mas, como Mosley previu, a F-1 precisa encontrar uma formula entre a competitividade e a economia para sobreviver. No ano que vem as grandes, Ferrari e McLaren, certamente voltam a reinar, mas a Red Bull está aí para contrariar a lógica. Felicidades a todos!