No ano de 1979 concluímos o curso de Engenharia de Segurança do Trabalho. Vivendo as emoções daqueles tempos fui à Fundacentro, autarquia gestora do assunto no Brasil - sucursal em Belo Horizonte - e ali adquiri todos os livros técnicos disponíveis sobre a matéria. Eram em torno de 20 volumes, somados a revistas e outras publicações.
Entre as obras, estava um excelente livro de prevenção e combate a incêndios, escrito por um oficial do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul. Tomei conhecimento depois que naquele Estado está um dos eficientes órgãos de extinção de incêndio e pânico do País. Nos pampas são editadas, dentre outras, as revistas “Proteção e Emergência”, das quais sou assinante há alguns anos.
Diante da catástrofe em Santa Maria, em que mais de 200 jovens perderam a vida no incêndio de uma boate, nós prevencionistas podemos refletir e concluir que: o Criador usa a sua linguagem para que entendamos a sua exatidão. O fogo no teto da boate, o mau uso do extintor de incêndio por um dos integrantes da banda e o impedimento da saída dos jovens feito pela segurança, são apenas detalhes para mudar o foco e maquiar a causa. O problema é muito maior do que se pensa.
Ao assistir a um show recentemente aqui mesmo, notei que o mega salão, lotado com mais de 1.000 pessoas, possuía apenas uma porta lateral que servia para entrada e saída. Esses dias, num baile de formatura, olhei para o teto de tecido e notei que um foguinho saía do soquete de uma lâmpada. Ainda bem que não passou do foguinho. Nos dois casos, fiz depois um giro pelo local e imaginei um pânico ali instalado. Sem querer ser agourento, posso afirmar que a segunda “Santa Maria” poderia ter sido aqui na terra de major Eustáquio. E há quem duvide.
Quando digo que o problema é muito maior do que se pensa, não estou denunciando e nem julgando pessoas. A falha é cultural. Quando o operoso Corpo de Bombeiros, visando a segurança, notifica alguém para que normalize situações de riscos, duas coisas sempre acontecem: “O órgão tá enchendo o sa...”- dizem, ou o jeitinho brasileiro tenta entrar na parada. Nisso a presidente Dilma tem razão. Não há que remediar.
Fico imaginando que tipo de “recado” o Criador nos enviará antes da Copa do Mundo para que façamos alguma coisa a fim de contermos a onda de violência. Teremos que virar manchete de novo?
Lamento pelo coronel Guido Pedroso Melo, comandante-geral do Corpo de Bombeiros do RS. Finalizando agora a carreira, ele voltará cabisbaixo para sua querida Santa Maria onde nasceu no dia 29/03/1958.