Despertar pela manhã, sair da cama e tomar um agradável banho quente. Ir à padaria e tomar um café feito na hora, acompanhado de pastelaria variada, só porque sim. Entrar no carro, dirigir até o outro lado da cidade para trabalhar o dia todo em ambiente fresco, proporcionado pelo ar-condicionado. Aproveitar a hora do almoço pra fazer aquele exame pedido pelo médico na consulta de rotina. Não é muito perto, mas não há crise; de carro é um saltinho. À tarde, passar no supermercado do bairro e escolher, entre centenas de alimentos, o que apetece para o jantar. Antes de dormir, atualizar-se com as notícias e desfrutar algum entretenimento.
Esse bucólico dia, comum a milhões de pessoas no mundo ocidental, seria um sonho impossível para a mulher mais poderosa do mundo no século XIX, Rainha Victoria, da Inglaterra. Sim, ela desfrutava de confortos inacessíveis aos plebeus da época.
Entretanto, vendo a primorosa série “Victoria” (Amazon Prime), ficamos algo reflexivos ao ver a instalação do primeiro vaso sanitário no palácio, por iniciativa do Príncipe Albert, um visionário.
A cozinha real fornecia iguarias finas e variadas, ainda assim, nada perto da diversidade internacional ao nosso alcance. Para nós, é questão de encontrar o fornecedor que mais nos agrade entre as muitas opções.
O príncipe infante adoece. Pouco pode o médico fazer, além de recomendar tratamentos que hoje nos parecem quase pajelança. Não existiam remédios que hoje estão disponíveis em qualquer farmácia, em marcas e preços suficientes pra permitirem a um hipocondríaco alimentar seu distúrbio de maneira constante e quase infinita.
Carro? Televisão? Nem em sonhos. Sem falar de computadores, smartphones e tablets. Buscando informação que a ajudasse a tomar decisões, a nobre senhora mandava chamar especialistas, desbravadores, fazendo seu melhor com os recursos que tinham. Hoje, uma busca de segundos na internet nos dá mais conhecimento do que o perito da época provavelmente poderia granjear durante toda a sua vida.
Deus abençoe o progresso e as condições que permitiram ao engenho humano fazer de nós todos reis e rainhas em tão pouco tempo.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica AnaMariaLSVilanova@gmail.com