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Vida humana e divina

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 13/08/2021 às 19:06Atualizado em 18/12/2022 às 15:36
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Como tudo na cultura se torna tão natural e corriqueiro, a dimensão mistérica, que dá sentido à vida, seja humana como divina, fica totalmente despercebida. Isto significa estar olhando apenas para as realidades terrenas, materiais e carnais, desconsiderando a força transformadora que vem do alto. Olha para o alto quem tem o dom da fé e vê as coisas da terra como consequência do agir de Deus.

O que chamamos de “mistério” de toda a criação está além da capacidade de percepção do olhar humano, que só consegue ver e sentir dentro do contexto palpável do histórico da vida na terra. Para todos os cristãos, a vida e a prática humano-divina de Jesus Cristo, assumida no relacionamento com as fatalidades terrenas, proporciona perceber aspectos diferenciados e divinos nos dados do cotidiano.

Assim é a vida dos que são proclamados santos. Uns declarados oficial e publicamente pela Igreja, começando pela Mãe de Deus, Maria, com os diversos títulos relacionados a circunstâncias de localidade e proclamação, como acontece no caso de Nossa Senhora da Assunção, celebrado no mês de agosto. Muitos outros tiveram vida exemplar e de fidelidade dentro do olhar da justiça e do amor.

A literatura bíblica, principalmente no Antigo Testamento, vê como manifestação de algo divino trovões, vozes, relâmpagos, terremotos, tempestades de granizo (cf. Ap 11,19). A evolução da tecnologia entende tudo isso hoje como evidências naturais, sem alusão ao mistério dos fenômenos e dos sinais divinos. Assim temos um cotidiano com olhares voltados apenas para as evidências.

A vida divina está presente no ser humano, na pessoa, mas não fica limitada apenas à dimensão corpórea e terrena. A Bíblia fala da ressurreição como passagem para a eternidade (cf. I Cor 15,21-23). Portanto, a condição de ser humano e ser divino ultrapassa a esfera de capacidade que a razão tem para entender, mesmo com o uso das ciências filosóficas e imaginárias, porque supõe a fé.

Em consonância com o real sentido da fé, ou capacidade de abandonar-se serenamente nas mãos de Deus, está a caridade como belo gesto de serviço e dedicação ao ser humano, para consolidar na pessoa a virtude imprescindível da esperança. Um ser humano sem esperança de realização futura, com apoio na providência divina, não consegue projetar vida de eternidade, além do simples humano.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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