O mundo paralelo para ela não era uma crença espiritual ou uma fundamentação teórica. Era algo diferente. Ela era uma pessoa simples, porém estudada, sem ser, contudo, prolixa ou pedante ao falar das coisas simples e raras. O seu conhecimento era um instrumento de descobertas para a liberdade, ferramenta de evolução, aparato de solidariedade com aqueles que requerem saber. Seus pais não eram fervorosos religiosos e nem indiferentes à religião. Eram pais, cuidadores e lambedores de suas crias, sempre preocupados com o fazer, conhecer, proteger, orientar. Não carregavam culpas conscientes e nem explicações pretéritas para os infortúnios. São como são. Enquanto isso as vidas no mundo paralelo transcorriam sem grandes conflitos existenciais. Senão aqueles que nos assolam cotidianamente. Mundos de matérias ponderáveis, mas de substâncias diferentes tendiam, às vezes, a se encontrar no linear da imponderabilidade comum entre as duas matérias que, geralmente, pode ocorrer durante o repouso físico. Somente o corpo físico necessita de repouso e alguns de seus órgãos, nem todos. Enquanto sua réplica agia em conformidade à matéria daquele mundo, a outra de si mesma atuava nas condições estruturais da terra, mas quando adormeciam se aproximavam pela atração da simpatia. Eram diferentes e iguais em sentimentos. Sentiam saudades de coisas, de situações que não podiam explicar. Era uma saudade do que não sabiam ou não se lembravam para recordar. Certo dia teve a sensação que alguém a olhava na nuca. Quando se virou, viu rapidamente um vulto que se dissolveu em partículas. Ao chegar ao seu destino teve uma recordação daquele lugar em tempos não visitados. Sentiu-se pertencente àquele lugar. Ou a sua réplica estivera e os seus pensamentos se cruzaram nas informações. Foi dormir tarde aquela noite, estava pensativa demais. O pensamento e as aflições do pensar afastavam o sono. Deixava-a ainda mais excitada. Quando caiu no sono era madrugada. Os galos já teciam a teia da manhã com os seus cantos. O orvalho já havia molhado bem o seu roseiral de pétalas amarelas, brancas e vermelhas. Foi dormindo vagarosamente, abraçada ao travesseiro, de bruços, entregava o corpo à cama sentido as pernas, enquanto o corpo roçava o lençol, que se impregnava de seu aroma. Dormiu lentamente, suavemente. Sonhou com os seus sonhos. Teceu carinhosamente as imagens coloridas do sonho e despertou-se no mundo paralelo. Percorreu as suas ruas, que eram idênticas às vividas. Despertou-se do sonho ao sentir as suas mãos sendo apertadas. Era um apertar suave que se tornou repetitivo. Acordou e ao seu lado uma pessoa segurava a sua mão e a chamava. Quando tentou se desvencilhar, se sentiu paralisada, imobilizada.