Em todas as religiões do mundo, pelo menos naquelas que procuram um sentido...
Em todas as religiões do mundo, pelo menos naquelas que procuram um sentido para a existência, existe uma grande preocupação em desvendar a origem do mal. Por que a dor? Por que a doença? Por que a morte? Por que a violência? Enfim, por que o mal? Quem é o responsável pelo mal no mundo?
Textos da Bíblia procuram dar uma resposta. O livro do Gênesis serve-se de um mito para explicar a existência do mal. É o mito do paraíso terrestre, de Adão e Eva, da árvore do Bem e do Mal. Aquele primeiro casal, na concepção bíblica, desobedeceu a Deus, pecou. Como castigo, foram expulsos do paraíso no qual Deus os tinha colocado. Comeram do fruto proibido e as consequências foram desastrosas, perderam todos os seus privilégios e o mal, através deles, entrou no mundo. É o que se chama “pecado original”. É bom não se esquecer de que o Gênesis não é um livro histórico nem científico. Os onze primeiros capítulos da Bíblia são narrações míticas. São recursos literários inventados pelos homens para explicar as coisas que não entendiam.
Embora os homens (as religiões) inventem tantas teorias, a existência do mal continua indevassável. O fato é que o mal que se revela de mil modos é presença na vida de todos nós. Sofrimentos, doenças, dor, morte, roubos, homicídios, violências, terrorismos, carnificinas, pontilham nossa caminhada. Os Gulags, Auschwitz, Hiroximas, Kosovos, Inquisição, torturas, escravidão, racismos, neocolonialismo, Aids, são violências de todos os dias. Entram pelas nossas portas e perturbam nossa paz. O homem não é nenhum anjo. Embora sejamos dotados (estou me referindo a homens normais) de uma consciência capaz de distinguir entre o bem e o mal, não deixamos de carregar instintos animais. É bom lembrar que nossa estrutura genética é herdada de animais que chamamos de inferiores. O número de genes de um homem é quase igual ao de um chimpanzé. Trazemos as marcas de nossas origens biológicas. Só os fundamentalistas negam isto. O apóstolo Paulo se queixava de que via o bem que devia fazer e, no entanto, fazia o mal que não devia praticar. É a nossa condição humana. Uma tragédia. Somos tentados para a prática do mal, mas, por outro lado, nossa consciência nos mostra os caminhos do Bem. Se alguns constroem o Reino do Mal, muitos outros lutam para estabelecer no mundo o Reino de Deus, isto é, um relacionamento de amor, de perdão, de compaixão, de serviço desinteressado, de acolhida, de tolerância, de compreensão, de justiça. Se cresce o número dos maus, cresce também o número dos bons. Como reza a mantra: “Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz”. Ainda bem.