ARTICULISTAS

Violência urbana

A sociedade brasileira nunca foi cordial ou pacífica

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 14/01/2014 às 20:16Atualizado em 19/12/2022 às 09:27
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A sociedade brasileira nunca foi cordial ou pacífica. Desde o primeiro índio abatido, passando pelo banditismo do cangaço aos grupos de extermínios atuais, a cada dia, nós nos assustamos com os episódios de violência dentro e fora dos presídios no Brasil. É como se todos os dias os atos e ações se somassem favoráveis ao clima de violência. Há até música que incita o outro à violência. Sem falarmos dos agentes sociais que corroboram para as expressões de violência, sem que isto queira dizer que as injustiças sociais sejam as únicas responsáveis pela violência. Ninguém se torna bandido devido ao tecido social, é preciso ter predisposição. O banditismo não é também uma característica única das camadas menos privilegiadas. A tese de que o bandido é a vítima do sistema o transformou em coitado social. Bandido é um ser humano que requer tratamentos humanos frente aos erros cometidos, permitindo o cumprimento de suas penas. Não resta dúvida de que o sistema sempre gera descontentes e, nem por isto, bandidos. Assim, o sistema favorece as relações para a violência quando institui focos de privilégios para alguns, distorce a ação para outros e deixa de instituir políticas públicas universais miradas na oportunidade. As manifestações sociais, por exemplo, traduzem o descontentamento ou o desconforto de setores que se organizaram em torno daquele tema e são necessárias para que as mudanças ocorram. Essas manifestações sociais não se somam para a violência, mesmo que sejam infiltradas por marginais que as usam para depredar. As infiltrações acabam minando a eficiência das passeatas e por isso é preciso contê-las, sob pena de sermos silenciados por aqueles que nada têm a dizer, exceto depredar. A violência social que campeia a nossa sociedade é histórica e a cada dia se potencializa, merecendo uma reflexão mais apurada e menos ideológica. Estava ali ao volante do carro esperando o sinal da rua João Pinheiro se abrir. Pensava em atravessar a rua e virar à esquerda, na avenida Fidélis Reis. Estava ali olhando o sinal quando ouvi dois ou três estampidos. Olhei para o céu e pensei bestialmente ser foguetes estalando. Mas que nada. Homens saíram correndo de dentro de estabelecimento comercial em frente do Posto, na esquina da Caixa Econômica Federal, após abater alguém com tiros. A causa saberemos com o passar dos dias. Só vi a correria e gente se jogando ao chão. E tudo mexeu. O sinal abriu e fechou sem que o carro da frente aluísse do lugar, por curiosidade ou medo de atravessar a rua e dar de frente com o local do crime. Era tarde quente e ensolarada em Uberaba, nada de madrugada, quando os segredos são nuvens carregadas de sombras. Estávamos ali à luz do dia. Quando o trânsito cedeu para o deslocamento já havia se formado uma multidão à porta do estabelecimento comercial. Em segundos o aglomerado humano e o vozerio de perguntas obrigando o proprietário a fechar as portas e ficar lá dentro com o possível defunto. Não sei de onde saiu tanta gente para ver o baleado. Atravessei a avenida e segui o meu caminho disposto a escrever a minha crônica que, infelizmente, traz o traço da violência em nossa cidade. Que para aqueles é coisa natural e simples de executar.

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