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Você já foi ao psiquiatra?

O número daqueles que procuram os tratamentos psiquiátricos e os analistas é cada vez maior...

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 12/06/2016 às 12:53Atualizado em 16/12/2022 às 18:30
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O número daqueles que procuram os tratamentos psiquiátricos e os analistas é cada vez maior. Está ficando difícil encontrar alguém que não tenha passado por uma sessão de análise. De onde vem essa insegurança que nos atormenta? Sinal dos tempos? Conheço crianças de seis anos com horas semanais marcadas com analistas. Não é estranho? A gente não tem a impressão de que está faltando alguma coisa? O quê?

Não é preciso refletir muito para descobrir que estamos cada vez mais desencontrados. Perdemos o centro de nós mesmos e o centro de nossas aspirações fundamentais. Nós e as pessoas que nos cercam andamos quase sempre em estradas diferentes. Nós e nós mesmos nem sempre percorremos os mesmos caminhos. Há uma fissura profunda no centro de nós mesmos. Você já notou que, às vezes, nos estranhamos a nós mesmos? Como não há espelhos que refletem nosso interior, andamos por aí correndo atrás de analistas e psiquiatras.

Estamos todos desencontrados talvez porque tenhamos perdido o sentido lúdico da vida. Não sabemos mais ver o lado belo das coisas. Não sabemos apreciar mais o que é bom e prazeroso. Somos excessivamente adultos. Quem perdeu suas raízes de infância, não vive, vegeta. Estamos cada vez mais ligados a números, estatísticas, computadores. Na nossa vida de cada dia, há botões demais para clicar. Quase não pensamos mais. Criança inteligente, hoje, é aquela que sabe apertar botões. Quanto mais rápido, mais inteligente. Já estão falando que os computadores vão substituir os livros. Já pensaram nas poesias computadorizadas, concretizadas?

O grande poeta hindu Rabindranath Tagore escreveu que, “nas praias do mundo sem fim, as crianças se encontram”. As crianças se encontram porque elas ainda não aprenderam as fechar as mãos em gestos conscientes de egoísmo. Por isso, elas se encontram e se comunicam. Elas dão-se as mãos em ciranda. E o que dizer de nós mesmos se nossas mãos não se encontram, não assumem as coisas belas da vida? Como dizia, sabiamente, meu amigo Salim Abud, “pescar é melhor do que conferir duplicata”. Por isso é que esse “turco” vai viver cem anos.

Como vivemos desencontrados, nossa vida está cheia de medos. Medo de assaltantes, medo do pobre, medo do trânsito, medo do desemprego, medo do ridículo, medo de perder o amor de nossa vida, medo da dor, da doença.

Assim vamos vivendo. Ou sobrevivendo. Vamos escamoteando as coisas. Fingimos não ver a verdade. Fingimos não ver as injustiças do mundo. Fingimos não ver aqueles rostos emplastrados, carcomidos, que refletem a fome, a dor, a incompreensão, a solidão, o desespero. São os rostos que nos fazem virar para o lado no mais terrível de todos os desencontros. Jesus estava ali e nós não o vimos. Esse, sim, é o pior dos desencontros. A gente compreende, então, por que tanta gente anda correndo atrás de analistas.

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