Opinião impopular: felicidade é sobrevalorizada. No mundo de hoje, em que tudo parece obrigatoriamente voltado a evitar qualquer tipo de sofrimento, ao mesmo tempo em que se busca uma felicidade um tanto sensorial, essa opinião é quase um pecado. Certamente, um pecado em redes sociais voltadas à ostentação. Ou seja (praticamente), todas.
Quando acontece um perrengue muito sério, e a gente vê que felicidade é algo completamente fora do nosso controle, calha a indagaçã mas o que é felicidade, mesmo? Pensando e perguntando por aí, fica uma imagem meio idílica, 100% utópica, com uma casa maior do que precisamos, uma família sem problemas e muitas, mas muitas coisas para tornar a vida mais confortável. Felicidade é conforto? Ver e estar no meio de coisas bonitas, e pagas? Não ter problemas?
Em geral, para o ano que entra, ter mais dinheiro está na lista de desejos de quase todos. É um novo ciclo, quem sabe? Poderá ser por um negócio, o livro a publicar ou, a quimera dos desejos, ganhar na loteria. Com dinheiro, tudo se compra ou, pelo menos, o que está à venda. Nada contra dinheiro, é claro, e é certeza de que, quando falta para o básico, aquele algum a mais vai fazer a diferença. Contudo, quando temos o teto, o sustento e até alguns pequenos luxos, será? Satisfeitas as necessidades de sobrevivência, do que, realmente, precisamos para ser felizes?
Se há algum sonho a realizar, o que falta? Se é algo que nos dará aquele senso de “nosso lugar no mundo”, por que ainda não o fizemos? Não gostamos muito de admitir, entretanto é o medo que, frequentemente, nos para. Medo de perder o que já temos, de parecer ridículos ou de enfrentar a famosa “síndrome do impostor”: pensar que todos vão perceber que não temos ideia do que estamos fazendo. Se é o caso de desejar algo para 2022, é a coragem para dar o primeiro passo, só esse. Depois, mais um. E, depois desse, unzinho mais. Assim se começa.
Provavelmente, 2022 não será o ano em que todos os desejos vão se realizar. Isso a gente tenta a cada 31 de dezembro; em geral, não funciona muito bem. Assim, ficam os votos para as pequenas realizações, em vez das grandes. Vencer o medo já é gigante.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com