Várias classes sociais da população brasileira vivem situação de extrema pobreza. Isso está visível no volume de moradores de rua, na ausência de habitação convencional, na assustadora realidade da fome, do desemprego e subemprego, situação causada pela grave crise econômica, social, política e sanitária no cenário nacional. Nessa condição, é quase impossível evitar a marginalização e a violência.
A ação missionária da Igreja tem como foco fazer uma via de conscientização, socialização e libertação de quem se encontra dentro desse mundo de vulnerabilidade e sofrimento. A Palavra de Deus não consegue compactuar com as formas de exploração e de injustiça, muito introjetadas nesse cenário da economia neoliberal excludente e escravizante presente na situação histórica do Brasil.
A complexa e preocupante realidade política atual não pode desencadear pessimismo e pensamento negativista na população, dizendo que o futuro está comprometido e sem esperança. É possível reconstruir a esperança e construir uma nova forma de tratar a coisa pública. O desgaste ético e desmoralizante que o país hoje enfrenta, causando vulnerabilidade na população, pode ser mudado.
O cristão tem uma esperança propositiva, que vem da força de Deus, para reconstruir a partir de vidas sofridas. Foi o que fez Jesus ao convocar pessoas simples e pobres para começar um projeto de vida para os mais vulneráveis e sofridos por causa de injustiças e exploração em seu tempo. A dinâmica de Deus não vem de cima para baixo, mas principia com o envolvimento dos mais simples.
Não é possível e saudável desvincular o compromisso de fé das exigências firmadas e propostas pela questão social, entre elas a compaixão e a solidariedade para com as classes mais sofridas da sociedade. A Palavra de Deus, como fonte de sustentação da fé, tem como exigência de ação missionária mostrar o valor da vida humana e trabalhar para que todas as pessoas vivam com dignidade.
Corremos o risco da cegueira diante do sofrimento alheio, de quem vive do nosso lado. Às vezes, preferimos não nos envolver a ser incomodados e nos fazemos de surdos e mudos, revelando uma vida de privilégio por ter o necessário para viver tranquilos. Há o medo de intimidade com os pobres. Diz o lema do Mês Missionári “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos!” (At 4,20).
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba