Segundo Mellanye Marques, cofundadora do Coletivo Beth Pantera, que milita na causa LGBT+, o CRESP não tem endócrino para acompanhar processos de transgeneralização hormonal
O coletivo, que luta em prol de causas da comunidade LGBTQIAPN+, afirma que em visita ao local no final de janeiro, foram constatadas algumas irregularidades que estariam, inclusive, em desacordo com protocolos do SUS (Foto/Divulgação)
CRESP (Centro de Referência em Saúde da População LGBTQIA+) é alvo de denúncia por parte do Coletivo Beth Panthera. Segundo o grupo, o espaço estaria esvaziado, sem a adesão da comunidade, e sem serviços fundamentais, como especialistas para acompanhar o processo de transgeneralização hormonal. A Prefeitura de Uberaba alega que mais de mil atendimentos foram realizados em 2023.
Ao Jornal da Manhã, o coletivo, que luta em prol de causas da comunidade LGBTQIAPN+, afirma que em visita ao local no final de janeiro, foram constatadas algumas irregularidades que estariam, inclusive, em desacordo com protocolos do SUS (Sistema Único de Saúde).
Segundo Mellanye Freitas Marques, cofundadora do Beth Pantera, uma equipe do coletivo esteve no local para fiscalização após denúncia. Além de apontar que a unidade está esvaziada, Marques aponta que um dos principais especialistas para o processo de transição de gênero estava em falta.
“Há presença do psicólogo dentro do CRESP, mas a função do Centro não é como, por exemplo, um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que precisa fazer o acolhimento e atendimento de pessoas que têm demandas em saúde mental. Não somente. O psicólogo é extremamente importante. Mas aquela unidade, segundo os protocolos do SUS que se referenciam a ambulatórios para a comunidade trans, essas unidades, para serem chamadas de ambulatórios, precisam contar com uma especialidade médica, que é o endócrino. Sem o endócrino, nós não temos como ter a prescrição medicamentosa. Por exemplo, no meu caso, eu quero iniciar um processo de transgeneralização hormonal. Tem a única pessoa que pode me prescrever esse hormônio, que é o médico endócrino”, afirma.
De acordo com a cofundadora do coletivo, o local conta com uma médica clínica geral, o que propõe uma abrangência limitada no processo. “Para o corpo travesti, ela pode prescrever medicações de controle de natalidade. Já para o homem trans ela não pode, porque ela não é endócrino, ou seja, o homem trans é enuberado, precisa pagar pelo hormônio caso queira”, explica.
Ainda, a denúncia aponta que a unidade não conta com coleta de exames, recepcionista e, nem mesmo, uma coordenadora. “Então não tendo este médico, não tendo exame, não tendo especialização médica dentro da sua unidade, trata-se de uma unidade falaciosa, de uma unidade oca, de faz de conta. Temos um psicólogo, mas não temos recepcionista. A unidade não tem recepcionista, a unidade não tem gestão, não tem uma coordenadora, não tem uma gestora lá da unidade, o que é proibido por lei, inclusive”, reforça Mellanye Freitas Marques.
A reportagem do Jornal da Manhã entrou em contato com a Prefeitura de Uberaba e, em nota, foi informada que, em 2023, o Centro de Referência em Saúde da População LGBT+ realizou 1.023 atendimentos, sendo:
• médico – 239;
• enfermagem – 233;
• psicólogo – 431;
• assistente social – 80; e
• nutricionista – 40.
Atualmente, cerca de 45 pacientes estão ativos no serviço. A unidade conta com uma equipe multiprofissional, formada por psicólogos, clínico geral, assistente social e enfermeiro, responsáveis pelo acolhimento em saúde. “A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) está trabalhando para recompor/compor, via processo seletivo, os quadros dos serviços no atendimento à população”, informa.
O atendimento voltado ao público LGBTQIAP+ é ofertado de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, na rua Minas Gerais, 744 – bairro Santa Maria.