Apresentação direcionada ao ICBC aconteceu com audiodescrição, um recurso de acessibilidade que permite a pessoas cegas ou com baixa visão compreender uma peça teatral (Foto/Divulgação)
O espetáculo Corpófera contou com seis apresentações no Teatro Experimental de Uberaba (TEU), sendo quatro direcionadas a escolas públicas, uma para o público em geral e uma à Escola para Surdos Dulce de Oliveira, e fechou com apresentação para o Instituto de Cegos do Brasil Central (ICBC).
Este projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo no município e é de autoria da cofundadora da Cia de Teatro Flores Nômades e, também, intéprete Danielen Brandão. Com o objetivo de tecer rede e produzir conexões, a temporada contou com sessões gratuitas e logo após aconteceu um bate-papo com a plateia para que houvesse trocas e compartilhamento sobre o processo criativo.
Todas as sessões contaram com tradutora e intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e, para apresentação realizada para pessoas cegas ou com baixa visão, houve audiodescrição ao vivo, oferecendo maior acessibilidade. “O teatro é um espaço democrático e darmos acesso a todos é fundamental. Muitas pessoas com deficiência não vão a espetáculos por falta de acessibilidade. Temos que mudar esta cultura”, avalia Danielen.
A apresentação direcionada ao ICBC aconteceu com audiodescrição, um recurso de acessibilidade que permite a pessoas cegas ou com baixa visão compreender uma peça de teatro. O recurso traduz as imagens em palavras, permitindo que o espectador tenha acesso a detalhes, como a ambientação, a posição dos atores, a iluminação, os figurinos e as fisionomias das personagens.
Danielen afirma que esta proposta surge como um (re)encontro com o Cerrado Mineiro. “Quis compartilhar com artistas e comunidade uberabense as pesquisas que venho realizando”, pontua. Ela observa que Corpófera emergiu dos estratos intensivos, sensíveis e metamórficos do corpo-mulher da intérprete-criadora.
Ela descreve que, durante a criação, farejou os ossos e percorreu um lungo drom (“longo caminho”, em romani) que a levou à sua ancestralidade romani (cigana) e a suas intensidades, suas poéticas, suas histórias, suas forças. “Nesse caminho encontrei com os entes ósseos que povoam esse território, esse estrato de espaço/tempo/corpo/sensação. Festejou-se esse encontro em um solo de dança-teatro que cria uma composição fantástica, feroz e transbordante”, adianta.
Com referência na dança Butô e no livro de Clarissa Pinkola Estés, “Mulheres que correm com os Lobos”, Danielen propõe nesse trabalho investigar o “movimento feminino de espalhar sementes”, sem perder a voracidade, criticidade e o ímpeto revolucionário. “Uma resposta à tentativa social de domesticar e docilizar os corpos femininos”, define.