PAIS E FILHOS

Como falar sobre tragédias e traumas com adolescentes? Psicólogo orienta

Joanna Prata
Publicado em 13/05/2025 às 11:26Atualizado em 13/05/2025 às 11:31
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A geração atual é altamente conectada e constantemente exposta a conteúdos impactantes nas redes sociais. Para o psicólogo, o monitoramento parental é indispensável (Foto/Reprodução)

Após a morte de uma adolescente dentro de uma escola em Uberaba, o clima entre pais, alunos e professores é de choque e insegurança. A tragédia sem precedentes na cidade levanta uma questão delicada, porém essencial: como conversar com os filhos sobre esse tipo de violência sem causar mais medo e ansiedade? O Jornal da Manhã conversou com o psicólogo Sérgio Marçal, especialista em saúde mental infantojuvenil, que trouxe orientações valiosas para pais e educadores lidarem com o momento de dor e insegurança.

Falar com verdade, mas com cuidado

Segundo Sérgio Marçal, o primeiro passo é explicar aos filhos que o ocorrido é uma situação extremamente atípica. “É importante destacar para as crianças que esse tipo de ato foge completamente da normalidade. Não é comum e, por isso mesmo, gera tanto impacto. Fato é que é a primeira vez que nós temos notícias de algo dessa ordem em Uberaba, de modo a mostrar para as crianças e para os adolescentes que se trata de uma tragédia, de algo que não que não acontece normalmente, de algo que foge da normalidade”, afirma.

Atenção ao medo de voltar à escola

É comum que, após um episódio traumático, algumas crianças passem a ter medo do ambiente escolar. Sérgio explica que isso pode ser um reflexo do estresse pós-traumático. “Quando algo tão grave acontece, o cérebro entra em modo de autoproteção. É natural que a criança relacione o lugar com o trauma, mas é papel dos pais e da escola trabalhar essa percepção”, orienta Sérgio Marçal. A dica vale para alunos das diferentes instituições de ensino de Uberaba.

Escuta e comunicação contínua

O especialista destaca que o episódio pode ser uma oportunidade para reforçar a importância de expressar sentimentos. “Devemos aproveitar esse momento para ensinar que sentir dor, medo ou tristeza é natural, e que o isolamento não é o caminho". 

O momento também pode ser válido para reforçar os laços de confiança entre pais e filhos. "Dizer para os nossos filhos sobre a importância da expressão de sentimento, da comunicação de sentimentos e dificuldades. Aproveitar uma situação crítica e acolher, explicar, esclarecer, mas também reforçar o vínculo de confiança com os nossos filhos e trazê-los para perto como uma rotina, não só diante de um fato pontual como esse", alerta o psicólogo. 

Marçal ainda faz importante advertência: “Ficar em silêncio achando que está protegendo a criança pode, na verdade, agravar o problema. Assim como falar sobre suicídio não incentiva ninguém a cometer o ato, falar sobre violência não gera violência. O silêncio, sim, pode isolar e adoecer. Falar do desequilíbrio é mostrar que o desequilíbrio é exceção à regra e não à regra em si”.

Controle de conteúdo e redes sociais

A geração atual é altamente conectada e constantemente exposta a conteúdos impactantes nas redes sociais. Para o psicólogo, o monitoramento parental é indispensável. “Hoje, quem está apresentando o mundo aos nossos filhos? Somos nós ou é a internet? Precisamos estar presentes, acompanhar, filtrar e conversar sobre o que eles estão consumindo”, orienta.

Ele explica que crianças e adolescentes ainda não têm maturidade emocional para interpretar a realidade de forma crítica e, por isso, os pais devem ser mediadores desse processo. 

Evitar a banalização da violência

Um dos riscos da exposição constante à violência nas redes e no ambiente escolar é a banalização de comportamentos agressivos, alerta Sérgio Marçal. “O bullying, o cyberbullying, a agressividade — nada disso pode ser tratado como normal só porque acontece com frequência. A naturalização leva à banalização, e isso precisa ser combatido com postura crítica", finaliza.

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