FALTA DE LEITOS

Enfermeiras procuram a polícia após não conseguirem transferir pacientes para o HC-UFTM

Segundo os boletins de ocorrência registrados pelas enfermeiras, a recusa se deu por falta de leitos no HC-UFTM

Rafaella Massa
Publicado em 03/09/2024 às 11:49Atualizado em 03/09/2024 às 20:14
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Apenas um paciente conseguiu leito na instituição, após série de negociações. Um terceiro paciente com autorização nem chegou a ser levado (Foto/Edmundo Gomide/Arquivo pessoal)

Apenas um paciente conseguiu leito na instituição, após série de negociações. Um terceiro paciente com autorização nem chegou a ser levado (Foto/Edmundo Gomide/Arquivo pessoal)

A falta de leitos teria causado a recusa de dois pacientes no Hospital de Clínicas da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) na madrugada de segunda-feira (2). Segundo os boletins de ocorrência, um dos pacientes foi enviado de volta para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Parque do Mirante, enquanto o outro conseguiu entrada após negociação.

A Polícia Militar (PM) foi acionada para atender ambos os casos. Conforme o boletim registrado por uma enfermeira do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência), durante a madrugada da segunda-feira, foi feita a regulação de um paciente com quadro de embolia pulmonar, autorizando sua transferência da UPA São Benedito para o Hospital de Clínicas.

A transferência do paciente foi autorizada à 01h11, porém, ao chegar ao HC, o paciente não foi aceito e a viatura do Samu permaneceu retida até as 03h21. Os profissionais do Samu relataram à PM que foram agredidos verbalmente, com linguagem pejorativa, por uma enfermeira do local.

Ainda conforme o relato, o HC se encontrava em situação de superlotação, fato que teria sido comunicado previamente. Para auxiliar a instituição, o Samu teria realizado as transferências de pacientes com perfil de UTI para o Hospital Regional, com o objetivo de aliviar a carga do Hospital de Clínicas. Contudo, mesmo após a transferência de dois pacientes, a enfermeira do HC teria recusado a admissão do paciente.

O boletim de ocorrência aponta que, diante da negativa, houve uma piora no padrão respiratório do paciente, sendo necessário trocar o dispositivo de oferta de oxigênio para um fluxo maior, devido à queda de saturação. Mesmo ciente da piora no quadro, a autorização foi negada.

Após cerca de duas horas, a coordenadora do Samu teria auxiliado nas negociações e o paciente foi aceito no Pronto Socorro do HC.

Na mesma madrugada, os militares registraram outro caso de recusa, denunciado por uma enfermeira plantonista da UPA do Mirante. Segundo ela, na tarde de domingo (1°), foi autorizada a transferência de um paciente com quadro de problemas cardíacos para o Hospital de Clínicas da UFTM.

A enfermeira relatou que, ao chegar ao Pronto Socorro com a autorização para a entrada do paciente, foi informada pela chefe do plantão que não havia vaga naquele momento. A enfermeira do HC teria informado que às 20h de domingo o hospital constatou superlotação.

De acordo com o boletim de ocorrência, a mulher informou que o órgão regulador já estava ciente da superlotação desde as 21h do dia anterior e que apenas seriam aceitos pacientes em estado crítico, com risco iminente de morte (vaga zero), o que não era o caso do paciente levado pela UPA do Mirante, que era classificado como grau 1.

Ainda sobre a regulação de vagas, a enfermeira apontou que, como a autorização de transferência ocorreu às 15h50, a unidade de saúde deveria ter movimentado o paciente o mais rápido possível, em torno de 20 a 30 minutos, uma vez que não há como segurar vagas na unidade por um longo período.

No entanto, a enfermeira da UPA alegou à PM que, após a autorização da vaga de entrada em outras unidades médicas pelo órgão regulador, havia um prazo de 24 horas para a movimentação do paciente. Mas, devido a uma série de fatores, como recursos humanos e logísticos, a movimentação foi dificultada.

Às 03h57, o paciente foi transportado de volta para a UPA. A enfermeira complementou que já havia um segundo paciente com insuficiência e autorização de transferência para o HC, mas, devido ao problema de vagas, ele permaneceu na UPA.

Hospital de Clínicas diz que avisou a condição de superlotação à regulação

A reportagem do Jornal da Manhã entrou em contato com a assessoria de imprensa do HC-UFTM, em busca de um posicionamento sobre os casos. Em nota, a instituição afirma que a Unidade de Urgência e Emergência (UUE) trabalha em regime de atendimento terciário, recebendo pacientes graves referenciados pela Central de Regulação Municipal, a partir da análise e priorização dos casos clínicos pelo médico regulador municipal, via Sistema Nacional de Regulação (Sisreg).

“Há um processo histórico de lotação do Pronto Socorro e no dia 1º de setembro havia superlotação de 141%, informação repassada ao Complexo Regulador Municipal/SMS, que, mesmo sabendo de todo o cenário na instituição, ainda assim solicitou a admissão de novos pacientes”, aponta o hospital.

A nota complementa que o PS continua atuando em Plano de Contingência acima de sua capacidade, situação que é acompanhada pelos órgãos reguladores em tempo real. “A Secretaria Municipal de Saúde foi acionada desde o início do plantão na referida data para auxiliar na resolução dos fatos. Todas as ações realizadas nesta ocasião estão sendo avaliadas, mas destaca-se que os colaboradores do Samu não integram a equipe do hospital”, finaliza a nota.

Secretaria de Saúde afirma que monitora todas as unidades hospitalares da cidade

A Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Complexo Regulador Municipal, informa que, na sua rotina diária de atividade, é prática comum o acompanhamento das unidades hospitalares do município de Uberaba no que tange à ocupação de leitos, com a finalidade de adotar medidas para salvaguardar a saúde dos pacientes.

Nesse sentido, a situação vivenciada pelo Pronto Socorro do Hospital de Clínicas da UFTM foi o tempo todo monitorada, sendo mantido contato com a Unidade de Urgência e Emergência do Hospital de Clínicas, para mitigar eventuais adversidades. Diante do quadro, o Núcleo Interno de Regulação envidou esforços que resultaram na transferência de pacientes do Hospital de Clínicas para outra unidade.

Salientamos que houve aumento significativo de pacientes críticos nos últimos dias, o que contribuiu para a admissão de um número elevado de pacientes em curto período de tempo, causando inabitual desconforto nas equipes envolvidas.

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