Em um cenário de recuperação econômica que reflete o panorama do país, Uberaba se depara com um dilema. Apesar de a taxa de desemprego atingir o menor nível em 10 anos, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a escassez de mão-de-obra qualificada se destaca como um obstáculo significativo para as empresas da cidade.
Em entrevista ao programa Pingo do J, da Rádio JM, a especialista em recursos humanos Daniela Sabino explica que as taxas de desemprego estão em torno de 6,4% no país. Quando se analisa o segmento de profissionais qualificados, esse número cai para 3,5%.
“Essa quantidade é insuficiente para atender à demanda das empresas daqui”, afirma Sabino. A especialista destaca que as organizações estão enfrentando uma carência de diferentes perfis, especialmente aqueles com curso superior e de jovens de até 25 anos, que são os mais procurados no mercado atual.
Um dos fatores que pode contribuir para este cenário, não só em Uberaba, mas em todo o país, são as mudanças de comportamento nas relações trabalhistas. “As pessoas querem ter experiências em outros lugares e cada vez mais novas e melhores oportunidades”, conta a especialista.
Segundo os últimos registros do Ministério do Trabalho, o vínculo médio entre trabalhador e empresa tem sido inferior a dois anos, sendo de apenas nove meses para jovens entre 18 e 24 anos. Já indivíduos acima de 65 anos permanecem, em média, nove anos no mesmo emprego. Essa diferença está relacionada à atual geração de funcionários, que molda a cultura organizacional, valorizando experiências diversas e a importância de um ambiente de trabalho seguro e acolhedor.
Para Daniela Sabino, uma estratégia comum entre empregadores para atrair mão-de-obra é a oferta de benefícios, como vale-transporte, vale-alimentação, gympass (acesso a academias), seguro de vida, plano de saúde, auxílio-creche, entre outros. “As pessoas estão mais confortáveis para migrar entre empresas, muitas vezes sem experiência, porque essas oferecem benefícios que as atraem”, comenta.
Os benefícios corporativos desempenham um papel crucial na motivação e no comportamento dos colaboradores, além de representarem um diferencial importante na atração e retenção de talentos. Por outro lado, esse recurso impacta significativamente a estrutura empresarial, especialmente em uma cidade como Uberaba, onde o perfil das empresas é de pequeno a médio porte.
“Nunca tivemos tantos pacotes de benefícios diferenciados nas empresas, o que é positivo. Mas aquelas que não conseguem oferecer melhores condições, inclusive financeiras, acabam tendo dificuldades de competir com as que conseguem manter esses atrativos”, esclarece Sabino.
Como possível alternativa, a especialista em recursos humanos aconselha uma mudança de abordagem em relação à contratação e à capacitação, como forma de beneficiar o mercado em geral. “As empresas têm que entender que, mais do que ofertar a vaga e admitir funcionários, elas precisam capacitar e dar oportunidade aos trabalhadores de se qualificarem. Isso é o que chamamos de ‘responsabilidade social’”, conclui.