EPIDEMIA

Estou com sintomas de dengue, o que devo fazer?

Luiz Henrique Cruvinel
Publicado em 30/03/2023 às 11:08
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Febre alta, dor no corpo, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas. Esses são alguns sintomas do período inicial da dengue, que segue como a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil. Em Uberaba, o aumento expressivo de casos prováveis levanta a necessidade de a população estar devidamente prevenida e orientada, com ações ativas de combate ao mosquito e direcionamento para assistência médica. Estou com sintomas, o que devo fazer?

Nos primeiros sintomas, o indicado é que o cidadão procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. Atualmente, Uberaba tem mais de 25 unidades disponíveis em período usual, até às 17h, mas outras seis funcionam até às 22h:  UMS Professor Aluízio Prata, no Elza Amuí; UMS Álvaro Guaritá, no Valim de Melo; UMS Roberto Árabe Abdanur, no Mercês; UMS Valdemar Hial Junior, no Tancredo Neves; UMS Ézio de Martino, no Boa Vista e UMS Tibúrcio Teixeira Santos, no Abadia. 

No atendimento, o paciente será submetido a um exame clínico com o médico responsável. Ou seja, serão feitas medições de pressão, frequência cardíaca, perfusão periférica, pulso, diurese e outros procedimentos hemodinâmicos. O chamado teste-rápido, usado há alguns anos, não tem mais validade científica suficiente, e deixou de ser indicado pelos órgãos de saúde devido aos casos de diagnósticos falsos-negativos. Quem explica é a médica infectologista Danielle Borges Maciel. 

“No teste rápido da dengue, e por isso não é um teste que tem grande importância, na gota de sangue tem que ter o vírus vivo da dengue, para identificar o NS1, a proteína de cápsula do vírus da dengue. E nem sempre aquela coleta tinha o vírus vivo. Ou seja, eram muitos resultados falsos-negativos. Quando começou a ser usado [teste rápido], não viram que dava muito falso-negativo e falavam para as pessoas que não era dengue. E, com isso, aumentaram os casos graves, porque não afastava o paciente do trabalho, a pessoa se expunha ao sol, não se hidratava, fazia atividades físicas, e chegava pior no atendimento médico. O teste rápido não é mais recomendado como medida de saúde pública nem pelo CDC (sigla em inglês para Centros de Controle e Prevenção de Doenças), Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS) e nem pela Organização Pan-Americana da Saúde”, esclarece a especialista.

Se durante o atendimento o paciente for notificado como um possível caso grave, podem ser solicitados pelo médico o hemograma e a hidratação endovenosa. Porém, é importante reforçar que isso depende da classificação (A, B, C ou D) definida pelo profissional no exame clínico. Não é possível requisitar os procedimentos sem antes receber a análise médica. Vale salientar, também, que segundo a chefe do Departamento de Atenção à Saúde, Aline Tristão, todas as UBS estão com pelo menos um médico disponível e equipada para a hidratação.

Ela também reforça a necessidade de a pessoa sem complicações graves retornar ao serviço para que seja feita a análise e o mapeamento da doença. “Uma coisa importante de lembrar é que, os pacientes que estão dentro dos critérios, a nossa equipe solicita o hemograma, mas eles não voltam ao nosso serviço para fazer a sorologia. A gente tem que fazer os estudos epidemiológicos. Ele [o paciente] precisa voltar depois do sexto dia à unidade. A nossa equipe orienta, fala sobre o repouso, a ingestão hídrica, e pede para que ele volte, a partir do sexto dia de sintomas, para uma nova amostra de sangue”, explica.

Nas situações não usuais, a pessoa fica em observação e, caso não melhore, pode ser transferida para um pronto-socorro pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Todos os nossos profissionais passaram por capacitações. Todas as unidades básicas continuam atendendo, têm uma avaliação clínica com o médico da unidade. De acordo com o estado clínico, o paciente pode receber hidratação endovenosa lá mesmo na unidade. Se não houver evolução positiva, acionamos o Samu para fazer a transferência para um pronto atendimento”, completa Aline Tristão.

Neste sentido, o Centro de Atendimento à Dengue (CeDengue), na URS São Cristóvão, funciona como apoio às unidades básicas, para diluir a alta demanda do período epidêmico. Apesar de estar no mesmo prédio do Centro de Covid-19 (CeCovid), os pacientes ficam separados e não há mistura entre os sintomáticos de dengue e de coronavírus, garantiu a chefe do Departamento. O CeDengue tem horário de funcionamento de segunda a domingo, das 7h às 16h. 

Unidade CeDengue, na URS São Cristóvão (Foto/Jairo Chagas)

Mas o que causa a piora clínica?

A infectologista Danielle Borges explica que esse quadro de piora repentina é visto em todas as doenças infecciosas. “Depende de vários fatores, do germe causador, da virulência, e também das condições do hospedeiro, do organismo da pessoa. É o processo inflamatório que leva à gravidade, e isso é muito particular, por isso vemos pessoas sem ser do grupo de risco que podem ir a óbito. E não temos como controlar isso, não conseguimos reverter. Por isso pedimos para intensificar o combate ao mosquito, porque qualquer um de nós pode estar suscetível”, esclarece.

Prevenção em Uberaba

Matheus Assumpção, chefe do Departamento de Vigilância em Saúde, revelou que foram recolhidas 25 toneladas de materiais inservíveis nos mutirões da Zoonoses em Uberaba, somente nos três primeiros meses do ano. Segundo Matheus, estão sendo realizados os mutirões de limpezas, com agentes e caminhão carregador, além de reforço nas ações conscientizadoras em escolas e bairros da cidade. No entanto, o principal ator na prevenção coletiva é o próprio cidadão.

“A gente reforça, se o cidadão identificar materiais inservíveis, pode colocar para a frente para casa, sempre de uma forma que facilite a retirada, e o material vai ser levado para o descarte adequado. Em terrenos vagos também. Em algum ponto com lixo acumulado, que possa ser propício para proliferação, fazemos o recolhimento. E um ponto de ajuda é a notificação. Um dos parâmetros que usamos para identificar os bairros com maior incidência é a procura da população pelas unidades de saúde. A população tem que procurar e identificar os casos suspeitos. Já visitamos 37 escolas, fizemos 144 ações, estivemos em duas empresas, além de 10 ações de panfletagem e oito “pit-stops” nos semáforos, justamente para conscientizar a população da importância do trabalho conjunto. É uma conscientização coletiva, fazendo o nosso trabalho, a gente se protege como comunidade”, complementa o chefe do Departamento de Vigilância em Saúde.

Medidas caseiras

Embora existam estudos avançados para vacinas contra a dengue, atualmente nenhuma vacina mostrou-se viável para a prevenção da doença. Portanto, o controle do vetor Aedes aegypti é o principal método para a prevenção e controle para a dengue e outras arboviroses urbanas (como chikungunya e Zika), seja pelo manejo integrado de vetores ou pela prevenção pessoal dentro dos domicílios.

Deve-se reduzir a infestação de mosquitos por meio da eliminação de criadouros, sempre que possível, ou manter os reservatórios e qualquer local que possa acumular água totalmente cobertos com telas/capas/tampas, impedindo a postura de ovos do mosquito Aedes aegypti. Medidas de proteção individual para evitar picadas de mosquitos devem ser adotadas por viajantes e residentes em áreas de transmissão. A proteção contra picadas de mosquito é necessária principalmente ao longo do dia, pois o mosquito pica principalmente durante o dia.

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