CIDADE

Fundação Palmares deveria zelar pelo Ceneg, diz ex-presidente

Ex-presidente do Centro Nacional de Cidadania Negra, professor Gilberto Caixeta da Silva rompe o silêncio de vários anos em torno

Marilu Teixeira
Publicado em 24/07/2009 às 00:22Atualizado em 17/12/2022 às 05:13
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Ex-presidente do Centro Nacional de Cidadania Negra, professor Gilberto Caixeta da Silva rompe o silêncio de vários anos em torno do assunto e garante não ser guardião da ONG, lembrando ainda não responder administrativamente pelo Ceneg. Lembra que há uma diretoria constituída, cabendo a ela zelar pela documentação e pelos bens adquiridos, bem como cabe à Fundação Cultural Palmares, gestora do projeto, zelar por tudo isso.

Para ele, o Ceneg chegou ao ponto final, que é a tradução do menosprezo. “Se hoje o Ceneg está abandonado, com sucessivas ocorrências de assalto e tentativa de incêndio e se está uma obra inconclusa, tudo isso se deve a uma perseguição ideológica desencadeada pela Fundação Palmares”, disse o ex-presidente, para quem não há motivos para que a obra fosse interrompida. Lembra que o dinheiro estava depositado na Caixa Econômica Federal, a Prefeitura de Uberaba era a ordenadora de despesas, a empreiteira contratada e estava construindo. “Então, quando entrou uma nova diretoria na Fundação Palmares, ela não admitiu que a obra fosse à frente, exigiu a devolução dos recursos e o Ceneg ficou inviabilizado”, conta, afirmando que tudo não passou de perseguição.

Quando os diretores aqui estiveram, relataram que o pré-vestibular e os cursos de Informática do Ceneg não eram só para negros. Segundo Caixeta, sempre foi dito à sociedade uberabense que o Centro não cometeria racismo às avessas. “Lá poderia se inscrever qualquer pessoa, de qualquer etnia e credo, desde que fosse uma pessoa despossuída”, afirma Caixeta, acrescentando que o Ceneg era um local de oportunidades, com reforço escolar, esporte e cursinho pré-vestibular.

Em tom de desabafo, o ex-presidente afirma que a Palmares, ao perceber que o Ceneg era um projeto vitorioso, inclusive com dez unidades no Brasil, se sentiu competidora e, na verdade, poderia ter sido uma aliada da causa negra, da inclusão. “Preferiu a destruição”, disse, afirmando que a maior obra do atual governo federal para a comunidade negra de Uberaba foi a destruição do Ceneg.

Caixeta conta que até 2004, enquanto foi presidente, salvaguardou e coordenou todos os projetos em Uberaba e no Brasil. A partir de 2004, saiu do Ceneg e não mais responde pela ONG, sem condições de interferir nos destinos da ONG.

Há muito Caixeta vem alertando de que se não houvesse o restabelecimento do Ceneg, se não houvesse algo que pudesse salvaguardar o seu patrimônio, ele seria alvo da violência social urbana. Sem saber onde foi parar o patrimônio do Ceneg, Caixeta ressalta que o Ministério Público Federal acionou judicialmente a Fundação Palmares, para que retome as obras, e nada fez.

Processos. Quanto aos processos a que responde na Justiça, Caixeta pede à sociedade uberabense a oportunidade de defesa. Alega que até agora não teve essa oportunidade. “Eu acredito na Justiça e, na sua serenidade, ela vai poder analisar o que o Tribunal de Contas fala, o que a Fundação Palmares vem dizendo e o que eu tenho a dizer. Não esconderei uma única verdade porque tenho a minha consciência tranquila de que executei um dos melhores projetos de inclusão social e tenho a convicção de que esse projeto foi derrotado por aqueles que vivem da miséria”, afirma.

Para ele, existem negros que não querem que se resolva o problema dos negros porque eles perderão o discurso e a oportunidade de tocar um projeto. Com a convicção de que o cumprimento do objeto foi cumprido, Caixeta lamenta a existência de pessoas que não admitem a inclusão. Para ele, essa questão de movimento negro, de inclusão, é ideológica. “Quando você inclui, aquele que tem esse discurso está excluído do processo”, encerra.

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