Segundo a médica do trabalho Marcella Ribeiro Vieira, o estudo nasceu da prática cotidiana e da necessidade de reafirmar um princípio central da área (Foto/Reprodução)
O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), filiado à Rede Ebserh, recebeu destaque nacional no 22º Congresso da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) com o trabalho “O papel estratégico das visitas técnicas na atuação do médico do trabalho”, desenvolvido pela Unidade de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho (USOST). A apresentação conquistou o primeiro lugar na categoria oral e consolidou o modelo adotado pelo hospital, que tem fortalecido a prevenção de agravos, a proximidade com as equipes e a melhoria contínua das condições de trabalho.
Segundo a médica do trabalho Marcella Ribeiro Vieira, o estudo nasceu da prática cotidiana e da necessidade de reafirmar um princípio central da área. “O trabalho ‘O papel estratégico das visitas técnicas na atuação do médico do trabalho’ nasceu da necessidade de reforçar um dos princípios básicos da boa Medicina do Trabalho: ir além do consultório de saúde ocupacional. Faz parte das principais atribuições do médico do trabalho conhecer o posto de trabalho, os riscos reais aos quais o trabalhador está exposto e a sua realidade cotidiana. Somente assim é possível ter maior assertividade nas condutas e promover, de fato, mais saúde e segurança”. Para ela, a premiação reforça o compromisso da USOST e do HC-UFTM com uma atuação ética, próxima da realidade e orientada pela prevenção. “Receber o primeiro lugar na apresentação oral do 22º Congresso Nacional da ANAMT representa o reconhecimento de uma prática que reafirma, tanto para os trabalhadores quanto para a instituição, o nosso compromisso com a qualidade dos serviços prestados em saúde ocupacional, bem como o desejo incansável de prosperar e alcançar resultados ainda maiores em âmbito local e nacional. É por meio do trabalho contínuo e de resultados como esse que evidenciamos a relevância das ações desenvolvidas e reafirmamos o valor de uma atuação médica próxima da realidade e orientada pela prevenção”.
As visitas técnicas são realizadas semanalmente, de forma planejada, com observação in loco das rotinas e escuta ativa dos trabalhadores e gestores dos setores, priorizando ambientes com maior demanda, como UTI Neonatal e Pediátrica, Unidade de Terapia Renal e Unidade de Análises Clínicas. Marcella explica que, ao estar presente no local de trabalho, o médico do trabalho torna-se elo entre os profissionais e a gestão, identifica riscos, propõe soluções conjuntas e avalia a viabilidade das melhorias, considerando o contexto real, as limitações estruturais e organizacionais e as demandas apontadas em consulta. Esse acompanhamento qualificado subsidia o Programa de Controle de Riscos em Saúde Ocupacional (PCMSO), fortalece a relação de confiança com os trabalhadores, aumenta a assertividade nas recomendações e orienta ajustes organizacionais e encaminhamentos de mudanças estruturais, com foco na construção de ambientes mais seguros e saudáveis. “Trata-se de um trabalho que possui um longo caminho, que requer persistência dos profissionais atuantes, mas que vale a pena e, com o passar do tempo, conseguimos tornar os resultados palpáveis, como foi o prêmio. Recebo-o como um recado para continuar a perseverar para uma medicina do trabalho ética e compromissada”, afirma.
Para o chefe da USOST, Rafael Jordão, o reconhecimento em um congresso nacional especializado demonstra que o HC-UFTM está alinhado às melhores práticas em saúde ocupacional e às diretrizes da Rede Ebserh. Ele destaca que as visitas técnicas antecipam situações de risco e aproximam a unidade dos trabalhadores. “As visitas técnicas são de suma importância para a promoção da saúde do trabalhador. Muitas vezes o funcionário fica no setor e não sabe como ou onde recorrer e, quando chega na USOST, já vem com algum quadro de adoecimento. As visitas antecipam muitas vezes essa situação e, com conhecimento prévio, algumas medidas simples evitam um possível adoecimento futuro. Além disso, o conhecimento in loco do posto de trabalho nos dá uma visão muito mais realista para aqueles que muitas vezes têm que tomar decisões diretas sobre a vida do trabalhador. O reconhecimento indica que estamos no caminho certo, de fazer algo que muitas vezes é negligenciado, mas que tem um grande retorno no longo prazo.”
Os próximos passos, segundo Rafael, incluem o fortalecimento do caráter multiprofissional dessas ações, com a participação integrada da engenharia de segurança do trabalho, psicologia organizacional, enfermagem do trabalho, serviço social e medicina do trabalho, ampliando o olhar sobre as condições laborais e garantindo que as visitas componham uma rotina institucional consolidada. “Os próximos passos envolvem as visitas serem orientadas também com equipe multiprofissional — engenharia de segurança do trabalho, psicologia organizacional, enfermagem do trabalho, assistente social, além, é claro, da própria medicina do trabalho. Espero que essa rotina seja ampliada. As visitas acabam entrando na agenda médica como uma rotina e esperamos manter isso, pois o retorno no longo prazo nos parece ser bem maior”, conclui.