Quatro grandes lideranças negras em Uberaba: o vice-prefeito, Mauricinho de Sá; a educadora e servidora pública aposentada, Lídia Lúcia de Oliveira; o secretário de Desenvolvimento Social, Ernani Neri; e a coordenadora de Políticas de Igualdade Racial, Maria Abadia da Cruz (Foto/Reprodução/Montagem)
O mês de maio é também de conscientização acerca do racismo no Brasil. Em 1888, a escravidão foi abolida no país, mas a realidade que se vê nas ruas e no discurso é bastante diferente. Lideranças negras ouvidas pelo Jornal da Manhã apontam sentimento comum: o cansaço, porém sem perder a coragem. Durante o mês, o JM produz material especial no combate ao racismo em Uberaba, com o apoio da Câmara Municipal.
Avanços foram sentidos pela população negra, que hoje vê um dos seus no cargo de vice-prefeito. Com trajetória marcada pela militância em movimentos culturais, Mauricinho de Sá acredita que sua visibilidade ajudará a ecoar as bandeiras que defende. “Hoje, quero usar meu lugar de fala para ampliar os espaços de representatividade, escutar mais e garantir que as políticas públicas cheguem a quem realmente precisa. A população negra tem muito a compartilhar e ensinar, mas grande parte do nosso tempo é consumida pelo trabalho. Carregamos o peso de 388 anos de desvantagem histórica, e isso ainda nos impõe limitações”, explica.
A realidade da população negra, não só em Uberaba, é de esgotamento físico e emocional, provocado pela luta constante contra o racismo estrutural. A educadora Lídia Lúcia de Oliveira defende que a implementação efetiva dessas leis no currículo escolar é uma das chaves para mudar a percepção social sobre a população negra. “Tudo começa pela educação e o que diz as leis deve ser ensinado nas escolas para mudar a forma como a sociedade nos enxerga e como as novas gerações se reconhecem”, afirma.
Ao longo de sua trajetória profissional, Lídia Lúcia enfrentou o racismo estrutural e percebeu, na ausência de representatividade, um obstáculo persistente à transformação. “Já fui sonhadora, hoje já não sonho mais. Somos muitos, porém dispersos. E, ainda, somos lembrados só no 13 de maio e no 20 de novembro. Mas existimos 365 dias no ano. Estamos nas igrejas evangélicas, católicas, nos centros. E ainda deixamos que os não negros decidam por nós”, completa.
Uberaba registrou alguns avanços na luta contra o racismo, com ações voltadas não só à saúde e educação, como também à cultura. Apesar das melhorias, lideranças locais apontam que o enfrentamento ao racismo precisa ser contínuo, articulado e sustentado por políticas públicas. Maria Abadia da Cruz, coordenadora de Políticas de Igualdade Racial, reconhece progressos, mas diz que ainda há gargalos importantes, como a falta de estrutura adequada e de recursos públicos suficientes para garantir que as ações mais efetivas cheguem à comunidade. “A liberdade do povo negro não veio com a canetada da princesa, mas sim com resistência. E essa resistência continua até hoje. Então é preciso enfrentar o racismo com políticas públicas consistentes”, ressalta.
Contudo, a luta por igualdade não deve ser restrita apenas ao povo preto. O secretário de Desenvolvimento Social, Ernani Neri, bem pontua que todos os povos devem se unir em políticas anti-racistas. “É desgastante ter que enfrentar sempre as mesmas batalhas, especialmente em datas como o 13 de maio, quando a sociedade finge que está engajada na luta. A verdade é que a resistência precisa ser diária. Essa luta não é apenas nossa, é de todos. É preciso que os brancos também se conscientizem do seu papel, da sua responsabilidade. A mudança precisa ser coletiva, e juntos podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos”, finaliza.