Morre Dona Aparecida do Pênfigo

Aos 95 anos de idade, morreu ontem no Hospital São José uma das figuras mais queridas e respeitadas de todo o Brasil: Dona Cida, como era conhecida a fundadora do Lar da Caridade – ou Hospital do Pênfigo de Uberaba. Aparecida Conceição Ferreira estava internada havia seis dias com pneumonia.

O médico que a atendia, Dauro Rodrigues da Cunha, não quis gravar entrevista, mas, segundo informações do hospital, o problema de Dona Aparecida foi agravado por complicações resultantes de doença degenerativa do coração. A enfermeira morreu de falência múltipla dos órgãos às 9h.

Corpo está sendo velado na Casa de Orações da instituição que ela criou. Menos de uma hora depois de sua chegada, cerca de 300 pessoas já se reuniam em filas para prestar a última homenagem a Aparecida.

De acordo com Marco Túlio Gianvecchio, chefe de policiamento da Guarda Municipal, milhares de pessoas passaram pelo local. “Muitas caravanas, vindas, principalmente, do Estado de São Paulo”, diz. Segundo ele, 12 funcionários da GM revezaram durante toda a noite para organização e segurança do público, que lotou as instalações do prédio, localizado no bairro Abadia. “A área em frente do Hospital foi isolada e também montamos cordões na parte de dentro, junto ao corpo, para que as pessoas pudessem se aproximar sem tumulto”, explica. O enterro será hoje, das 11h30 às 12h, no cemitério São João Batista.

Vida. “Nasceu do amor de uma mulher àqueles que têm muito a receber e pouco recebem.” Foi assim que o professor Gilberto Caixeta descreveu a criação do Lar da Caridade.

Em meados de 1945, Aparecida era enfermeira no Isolamento da Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, atual Hospital Escola, quando, por decisão do Hospital, a ala destinada ao tratamento das pessoas acometidas pela doença do Pênfigo, ou Fogo Selvagem, foi fechada. “O tratamento era difícil, dispendioso e a doença era desconhecida. A maioria das pessoas achava que era contagiosa”, conta Eliana Costa Vieira, amiga de Aparecida e funcionária da entidade há 18 anos. “Ela pegou as 12 pessoas que estavam lá e levou para sua casa de três cômodos. Sem contar com a ajuda do povo de Uberaba, Vó Cida passou a viajar para São Paulo para pedir esmolas”, completa.

Segundo Eliana, a amizade com o médium Chico Xavier foi fundamental para que as doações ao Lar fossem aumentadas e a instituição crescesse de forma rápida. Em 1957, o novo prédio foi construído e pessoas de várias cidades do Brasil vinham a Uberaba para buscar tratamento. “Foi um trabalho lindo vindo de um ser iluminado. Tudo o que ela deixou terá continuação”, garantiu uma de suas netas, Maria Abadia Vieira Cruz.

Hoje, o Lar da Caridade atende a 3.600 pessoas mensalmente e gasta mais de R$ 120 mil por mês para a manutenção de seus projetos sociais.