Representação contra manifestação do sacerdote em redes sociais, que classificou de profanas as manifestações do Dia da Abolição, será encaminhada pela Cpir e pelo Compir
No dia 13 de maio, grupos de congadas, moçambique e afoxés participaram, como é tradicional, de celebração na igreja Santa Teresinha (Foto/Divulgação)
A Coordenadoria de Políticas de Igualdade Racial (Cpir) e o Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial (Compir) vão representar contra o padre Valdiney Ferreira Eduardo, pároco da igreja de Santa Teresinha, junto ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). No entendimento do Cpir e o Compir, o religioso cometeu crime de intolerância religiosa contra os adeptos das religiões de matrizes africanas.
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O Cpir e o Compir também vão promover ato em protesto à manifestação do padre Valdiney Ferreira Eduardo. Em rede social, o religioso publicou texto considerado ofensivas e intolerantes as religiões de matrizes africanas, cujas comemorações em torno da abolição, ocorridas na igreja, foram consideradas pelo pároco como ato de profanação.
Representantes do Cpir e do Compir, respectivamente Reginaldo da Silva, o Peixinho, e Maria Abadia Vieira da Cruz, informaram que a manifestação está marcada para quarta-feira (29), na praça da igreja Santa Teresinha, e deve reunir novamente os ternos de congadas de Uberaba.
Também no Memorial Zumbi dos Palmares, na avenida Getúlio Vargas, haverá manifestação para esclarecer que a Constituição Brasileira garante o respeito à diversidade religiosa. “Do Memorial, vamos seguir em direção ao nosso território, porque, afinal de contas, a igreja é também o nosso território”, disse Maria Abadia.
Em publicação nas redes sociais, o padre Valdiney Ferreira Eduardo disse que há dois anos está à frente da paróquia Santa Teresinha e que nunca convocou os fiéis para participarem da congada, manifestação cultural que ele classificou como “profanação”. O padre escreveu ainda que a congada ocorre na igreja por determinação da Arquidiocese, que “sempre envia um padre para estar lá”.
O pároco seguiu em sua publicação: “Não é missa. Terminado o evento, sempre rezamos a oração do desagravo e jogamos água benta em todos os lugares”.
A Fundação Cultural de Uberaba “Professor Antônio Carlos Marques” publicou nota de repúdio “ao ato preconceituoso e de intolerância religiosa praticado na rede social em nosso município”. No texto, não é citado o nome do padre.
A Arquidiocese de Uberaba também se manifestou através de nota, assinada pelo vigário-geral, padre Saulo Emílio Pinheiro Moraes. O texto é dirigido aos membros da comunidade afro uberabense, às manifestações culturais de congadas, aos ternos de congos e membros das religiões de matrizes africanas.
A Arquidiocese diz que sempre acolheu essa manifestação de fé e piedade, pertencente ao catolicismo popular e ao sincretismo religioso e “se manifesta veementemente contra qualquer manifestação contrária a isso, velada ou não. Não compactuamos com qualquer tipo de discriminação, ou preconceito, ‘pois somos todos irmãos’ – (Mt 23,8)”.
Sobre as providências que a Arquidiocese tomará em relação ao pároco da igreja Santa Teresinha, a assessoria de imprensa da Cúria Metropolitana informou que o arcebispo dom Paulo Mendes Peixoto se encontra em viagem. Somente após o seu retorno haverá manifestação sobre o assunto.