ANÁLISE

Para presidente da Siamig, “tarifaço” de Trump causa desarranjo econômico

Joanna Prata
Publicado em 15/07/2025 às 20:05
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(Foto/Divulgação)

O anúncio da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros feito pelo presidente dos EUA, Donald Trump, tem gerado forte apreensão entre representantes do agronegócio e da indústria nacional. Embora o setor sucroenergético não esteja entre os mais afetados diretamente pela medida, como os segmentos de suco de laranja, carnes e mineração, sua importância para a economia regional, especialmente em cidades como Uberaba, é inegável. O município é um dos maiores polos do setor em Minas Gerais, com mais de 80 mil hectares plantados com cana-de-açúcar e uma produção que ultrapassa 6 milhões de toneladas por safra, sustentando milhares de empregos diretos e indiretos.

Em entrevista à Rádio JM, o presidente da Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais), Mário Campos, avaliou os possíveis impactos da nova tarifa e alertou para os riscos que a decisão pode representar para toda a cadeia produtiva.

Segundo Campos, o impacto mais imediato recai sobre produtores da região Nordeste, responsáveis pela exportação de açúcar dentro de uma cota de 150 mil toneladas estabelecida pelos EUA, com preço superior ao do mercado internacional. Com a aplicação da tarifa de 50%, esse comércio se torna inviável economicamente, desestabilizando usinas que dependem desse fluxo. Embora Minas Gerais não participe diretamente dessa cota, o presidente da Siamig alerta que os reflexos podem ser indiretos, atingindo toda a cadeia da cana-de-açúcar. “Essa mudança interfere na lógica de mercado e pode gerar excedentes que acabam afetando preços e o escoamento em outras regiões produtoras, como a nossa”, disse. Com usinas e fornecedores interdependentes, até mesmo Uberaba pode sentir os efeitos, especialmente em um cenário de instabilidade comercial prolongada.

Já no caso do etanol, Campos lembra que Brasil e EUA mantêm uma relação comercial histórica, com períodos de abertura e fechamento de mercado. Hoje, a tarifa brasileira para o etanol norte-americano está em 18%, enquanto os EUA aplicam apenas 2,5% ao produto brasileiro. Apesar de fluxos mais modestos nos últimos anos, a medida poderá afetar diretamente a competitividade e o equilíbrio dessa relação.

A criação de uma comissão pelo governo federal para discutir o tema, incluindo a possibilidade de aplicar a lei de reciprocidade, foi vista com cautela pelo presidente da Siamig. Para ele, a melhor solução passa necessariamente pelo diálogo entre os governos. A retaliação direta pode agravar a situação, já que o Brasil tem mais a perder com a ruptura dessa relação, dado o tamanho e a diversidade do mercado americano.

Campos ressaltou que a tarifa imposta por Trump não tem apenas motivações comerciais, mas também ideológicas, o que torna ainda mais difícil uma resolução rápida. Ele chamou atenção para o risco de desorganização de cadeias produtivas inteiras, como as dos setores de autopeças, aeronaves, café, aço e suco de laranja — todos com forte presença nas exportações brasileiras.

Minas Gerais, segundo ele, será diretamente impactada, especialmente pela dependência de setores como o café e o aço, já afetados por tarifas anteriores. A suspensão de exportações para os EUA pode levar ao fechamento de fábricas, desemprego e queda na renda. Campos foi enfático ao afirmar que, mesmo que ocorra uma redução temporária nos preços internos de alguns produtos, os efeitos negativos superam qualquer possível benefício.

O presidente da Siamig também descartou a possibilidade de o Brasil substituir facilmente os Estados Unidos por outros parceiros comerciais. Em alguns casos, como o café, até é possível buscar novos mercados, mas em setores como aeronáutica e suco de laranja, os EUA são insubstituíveis no curto prazo. Além disso, o Brasil importa dos americanos equipamentos e tecnologias fundamentais para sua indústria.

Por fim, Mário Campos destacou a importância de deixar de lado disputas ideológicas e unir esforços para preservar a estabilidade econômica. Ele manifestou confiança na liderança do vice-presidente Geraldo Alckmin como interlocutor junto ao governo norte-americano. Segundo Campos, caso a tarifa entre em vigor em 1º de agosto, a pressão econômica se transformará rapidamente em pressão política — e o país precisa estar preparado para negociar com responsabilidade.

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