Nova proposta apresentada por Zulema Paixão reorganiza 350 hectares de áreas públicas para preservar o principal manancial da cidade e criar espaços de lazer de uso controlado
Nova proposta apresentada por Zulema Paixão reorganiza 350 hectares de áreas públicas em extensão do Mirante e ainda ajudará a preservar o principal manancial da cidade e criar espaços de lazer de uso controlado (Foto/Divulgação)
A possibilidade de criação do Parque do Rio Uberaba voltou ao debate público após a arquiteta e urbanista Zulema Paixão apresentar à Prefeitura nova versão da proposta, atualizada e reestruturada em etapas. A proposta, construída a partir de áreas 100% públicas e agora encaminhada para inclusão no Plano Diretor, reacende a discussão sobre a urgência em preservar o principal manancial que abastece o município.
Em entrevista ao Pingo do J, da Rádio JM, revelou que agora, a versão revisada do projeto delimita 350 hectares entre a Captação da Codau e a BR-050, abrangendo também trechos do Córrego das Lajes e do Rio da Tapera. Toda a área proposta pertence ao município, Estado ou União — incluindo terrenos da Embrapa — garantindo viabilidade jurídica e evitando embates com proprietários privados. A iniciativa prevê trechos exclusivos de preservação e outros de uso público controlado, incluindo ciclovias, espaços de esporte e lazer, mirantes e áreas de contemplação.
“Essa área é onde Uberaba nasceu, e o projeto prevê urbanizar as margens do rio com recomposição da vegetação onde for necessário. Em trechos onde o solo é de pedra, podemos criar quadras e espaços de lazer sem degradar. A maior parte dos 350 hectares é de preservação, e o cerrado se regenera rápido quando protegido. As populações vizinhas ganhariam um grande espaço de convivência e uma área verde valorizada, com implantação gradual devido aos custos”, diz.
Plano de manejo da APA
Zulema lembra que o parque, apesar de estar noutro trecho do rio, complementa o Plano de Manejo da APA do Rio Uberaba, concluído pela UFTM após cinco anos, mas nunca totalmente implantado. Sem ações concretas, a nascente segue vulnerável à ocupação irregular, esgoto clandestino e manejo agrícola inadequado.
A arquiteta alertou para a rápida oscilação na vazão do rio, fenômeno percebido nas últimas semanas, com o período de seca. Para a arquiteta, embora seja natural que rios de fundo basáltico apresentem escoamento rápido, a queda brusca pode ser agravada pela retirada da vegetação das margens e pela degradação das matas ciliares.
“Na seca, o fundo do rio de basalto não absorve a água, então ela corre muito rápido. E isso piora quando tiram a vegetação das margens. A lei dos 30 metros é muito fraca; isso dá duas árvores grandes, e duas árvores não preservam um rio. A gente precisa de uma mata ciliar muito maior e de preservar as matas ao redor”, destacou.
A preocupação é reforçada por especialistas. Estudos conduzidos pelo geólogo José Cláudio Campos apontam que a bacia do Rio Uberaba — maior produtora de água da cidade — sofre com impermeabilização do solo, ocupação de Áreas de Preservação Permanente e uso de agrotóxicos. Para ele, a redução da vazão em períodos secos está diretamente ligada à perda da vegetação e ao mau uso do território. Já em eventual escassez, o custo de captação e tratamento de água poderia aumentar significativamente.
A expectativa é de que, ao longo de 2026, o projeto avance em estudos técnicos, planejamento de etapas e articulação entre Prefeitura, Embrapa e órgãos ambientais. Para Zulema, preservar o Rio Uberaba, na nascente e no trecho urbano, é uma tarefa imediata, sob risco de comprometer o abastecimento futuro da cidade.
“Eu apresentei esse projeto [do parque] por iniciativa da Áurea Engenharia pra Secretaria de Planejamento, faz pouco mais de uma semana, e eles vão incluir esse projeto já no Plano Diretor da cidade. Então, vamos ter uma garantia de que nos próximos anos é possível implantar essa proposta de um parque do Rio Uberaba”, finalizou.